Sonhos ao relento




Eu ando pelas ruas, recolhendo sonhos,
deixados ao relento.

Espatifados pelo vento.
Filhos bastardos do destino,
largados pelas mãos invisíveis do tempo,
à minha porta.

Recolho-os, galhos e gravetos molhados,
na última estação das águas.
Seco-os com os cachos dos meus cabelos.
Perfumo-os com o óleo dos jasmins,
que florescem - sempre -, em novembro,
e enfeitam a minha passagem,
sem se importarem com a minha vontade.

Embalo-os no berço fantasma
dos filhos que não tive.

E escondo-os de mim mesma,
numa caixinha de música
(antiga):
-onde a bailarina está nua
e tem as pernas quebradas.

Comentários

Carmen Quartim Madia disse…
Marisa,
aqui, vc ainda tenta esconder um mundo fantasma, cheio de fantasias de você mesma... mas vai ser por pouco tempo, porque estes últimos poemas mostram a grande virada, e por mais que você não entenda no plano racional, e acho que é providencial, que é a oportunidade que a vida está te dando de conectar-se com outros caminhos, com uma outra linguagem e uma outra paisagem, quando abre-se o portal e você sai, não tem mais volta, porque você encontra do outro lado um mundo novo, diferente de tudo o que você viveu até hoje.
Bjs, Carmen
Carmem, estou lendo este seu comentário agora. Não sei se é de hoje, ou mais antiguinho. De qualquer modo, obrigada pela sua leitura sempre atenta e carinhosa. Eu bem que tenho sair em busca de outras mundos e outras moradas, mas essa vida, real ou fantástica, está grudada em mim, como pelos de cachorro em roupa de lã, teias de aranha no cabelo, picão do campo, quando finda a florada. Minhas pernas estão amarradas e meus olhos vendados.

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