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Mostrando postagens de maio, 2015

Água para borboletas

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"Eu sou quando e depois...                                                                                ...   falo em águas”.     (Manoel de Barros) Eu ainda acabo tendo um destino de árvore: de tanto ficar sentada feito Buda, não vou morrer, vou criar raízes. Olho pela janela e vejo o dia dezaluzando lá fora. Tenho que entrar no site do banco e pagar um par de contas: do telefone, da energia elétrica, do gás. A prestação das meias que comprei pro inverno do ano passado e que nunca usei. Os moletons que importei da China pelo site muambeiro e que também ficaram guardados, pois quando aqui chegaram, já fazia um verão de 42 graus.  Os grilos já pedem carona lá fora, prá irem prá casa, no lombo das borboletas e eu aqui, sentada sobre a minha dor de pagar contas de coisas que não prestam nem prá fazer poesia.  Não se pode usar moletons como sementes de estrelas. Bois não vestem meias. O inverno do ano passado já virou água no calendário da minha mesa e escorreu p

ANJOS DE PLÁSTICO

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Na tarde vazia de varais e lençóis os azuis de anil  não resistiu à saudade e escorreu pelas portas e vidraças --fechadas – dos apartamentos. A tarde continua a mesma dos antigos tempos, brincando de desfiar cortinas de plástico prá enganar o sol, no fim do dia. Mas os carros nos engarrafamentos matam seus motoristas engasgados com a fumaça, cegam os seus olhos e murcham os seus corações para qualquer paisagem que não seja o caos                        __cinza concreto prédio buzina __ ninguém mais enxerga asa de anjo que se abana sentado na mureta do rio, mirando o pôr do sol. Homem da cidade grande des-vê. Imagem: Adrina Borda

Fidelidade canina

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Pelos caminhos íngremes da mata o pássaro planta estrelas durante o dia prá vê-las coreografar um baile de luzes ao entardecer. Os grilos, que nasceram para brilhar à noite, sonham cavalgar pelo mundo em asas de borboletas. Enquanto isso, um cão espera pelas minhas migalhas de afeto, embaixo da minha mesa. Queria ter nascido pássaro grilo borboleta, mas é a fidelidade do cão que eu invejo. Imagem: Christian Schloé

Gato Sádico

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um  gato sádico  com bigodes de borboleta mastiga as asas de um pássaro. nesta noite negra e sem pontes -:não existem barcos para fazer a travessia entre o nascer do sol e o poente. encho meu copo de champagne paraguaia e me visto com as asas bufantes da cigarra e seu corpete de veludo  verde-alemão. o violeiro ensaia uns acordes  de um rock & roll vintage, disfarça o desejo com o panamá de lado e eu canto e danço na chuva, enlameio meus sapatos brancos só prá sujar os bancos do seu carro novo. quero te fazer pirraça,vou te trancar na sacada,  te derrubar da escada, vou secar a àgua da sua fonte. Mas tudo o que consigo é sentir pena da tua cara de tédio; da tua t-shirt rasgada, do teu pijama sem elástico, da tua cerveja quente, do teu mastro a meio pau, malemolente. Imagem: Ray Caesar  Camburi, Dezembro, 20 a 31 de 2014.