Água para borboletas
"Eu sou quando e depois... ... falo em águas”. (Manoel de Barros) Eu ainda acabo tendo um destino de árvore: de tanto ficar sentada feito Buda, não vou morrer, vou criar raízes. Olho pela janela e vejo o dia dezaluzando lá fora. Tenho que entrar no site do banco e pagar um par de contas: do telefone, da energia elétrica, do gás. A prestação das meias que comprei pro inverno do ano passado e que nunca usei. Os moletons que importei da China pelo site muambeiro e que também ficaram guardados, pois quando aqui chegaram, já fazia um verão de 42 graus. Os grilos já pedem carona lá fora, prá irem prá casa, no lombo das borboletas e eu aqui, sentada sobre a minha dor de pagar contas de coisas que não prestam nem prá fazer poesia. Não se pode usar moletons como sementes de estrelas. Bois não vestem meias. O inverno do ano passado já virou água no calendário da minha mesa e escorreu p