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Mostrando postagens de junho, 2014

FIAT LUX

cálidas faces de janeiro o suor minando por todos os poros verão que incendeia tudo e todos desfaz-se em gestos inúteis nas praias do abandono deita-se com as vadias e os vândalos do noticiário: -- boquirroto mãos que não acenam mais para seus parceiros de adeuses. guarda-chuvas rasgados, pendurados atrás das portas, anseiam pelo último lampejo de um raio. Fiat lux na nossa escuridão. São Paulo, janeiro de 2014.

Streap-tease da lua

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 No fundo da mata crescem as heras enroscadas em troncos derrubados,  indiferentes a mais uma noite de lua cheia.  Lua melancólica  que despenca do céu dentro da minha varanda, que atravessa vidraças e paredes prá acalentar os que dormem em macas nos corredores dos hospitais, sem  céu nem estrelas por testemunha de suas dores: agudas ou crônicas. Lua indescente que ilumina a trilha para o macabro ceifador de árvores. Lua que  despe suas lingeries vermelhas e faz streap-tease  para uma família de novela na sala de jantar,  diante dos olhos atônitos de avós desmemoriados, e de casais desnamorados. Lua que ilumina a lâmina dourada sobre o braço do madeireiro e seu sonho  verde-amarelo agora, desbotado.  Ilustra: Christian Schloé São Paulo, junho de 2014. 

Poema de capa & espada

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Homens toscos rastejam pelo chão barganhando perdões antigos por moedas falsas: matam  suas mães aos gritos, depois de sugar-lhes todo o leite dos peitos murchos; estupram as flores de seus jardins, cospem pólvora seca no prato em que comeram e ateiam fogo no rabo do gato. A  esperança sobe ao telhado e não encontra mais nenhum amanhã, em  noite de lua cheia e assombrada. Na sala, diante da tevê, os pais dormem, exaustos. Nos sonhos das crianças,  brincadeiras de capa e espada. Ilustra: Adrian Borda                                                             São Paulo, maio/junho de 2014. 

Flores do Mal

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                                                       (Para Charles Baudelaire e Glauber Rocha) os dramas  se constroem na surdina em dobraduras de papel, nas entrelinhas entre um gole de café  e um olhar tácito decifrador de enigmas raios  tempestades  hieróglifos palavras incrustadas com o signo do mal há milênios, no coração dos homens os dramas se constroem com pitadas de sarcasmo e sal,  entre a mulher que varre o quintal, e a velha desdentada,  que cultiva primaveras do outro lado do muro na cama, o moribundo espera por uma das duas, prá lhe trocar as fraldas. as flores são testemunhas mudas, da tragédia cotidiana, e espalham seu perfume -- indiferentes--  ao dragão da maldade os dramas se constroem com  argamassa da sordidez humana, com restos de cachaça e cigarro, algum pigarro, e, às vezes, azeite e mel prá disfarçar o gosto de veneno,