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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Pérolas frescas

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Cheguei. Chegastes. Encontramo-nos sob a videira frondosa. Os cachos de uvas assemelhados a pérolas frescas, pendiam por entre as folhas. Trazias os braços nus dos filhos que não tivemos. E um olhar de fantasma faminto me cobrando explicações sobre um livro que nunca escrevi. O tempo transforma tudo em vinho. Ou cinzas. É a sua obrigação.  Ilustra: Yanzhow-Bao

Visita da morte

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A morte me espia por debaixo da porta. Vejo sua sombra negra rastejando como uma serpente à espreita da presa. De tempos em tempos, a morte me visita  no esconderijo de mim. Me manda flores murchas, e beijos ressequidos. Me manda um cartão de visitas e lembranças de teus braços fortes. Quero ter esperança de acordar criança, no amanhecer: mas ela me avisa que o tempo é curto e que as cartas já foram marcadas com o sinete do enforcado. É tempo de preparar a última ceia, para a festa de despedida. Ilustra: Michelle Mia Araújo

Estilhaços de mim.

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 Uma matilha de cães percorre os desertos gelados dos meus continentes. Seu alarido reverbera nas memórias de mim. De vez em quando, sobrepõe-se o som da flauta doce que a cigana tocava, junto às fogueiras, à luz do entardecer. Não tivemos tempo de preparar a cama para o descanso dos nossos ossos gastos. Um trem efêmero dispara dentro da noite voráz. Vejo teu  rosto difuso a dissipar-se nas vidraças. Caminho na escuridão sobre um tapete de cacos de vidro. Estilhaços de mim. Imagem: Laura Blank

Pássaro-noiva

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Caminhas devagar arqueado sob o peso dos anos, ladeando muros e muros, sem fim. Respiras, sufocado,  entre paredes altas e janelas de cristais. Ninguém te segue. Ninguém te reconhece. Ninguém sente a tua falta nos Natais. Só um beija-flor branco teima em postar-se a tua janela, a espera das migalhas do teu pão no café da manhã. Já não enxergas: nem a luz da lua, nem o brilho do sol. Tens a face branca de um fantasma faminto. E um pássaro-noiva, como companhia. Imagem: Rene Magritte

Aroma de beijos

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É verão. Os morangos explodem  em todos os tons de vermelho. Sinto aroma de beijos.

Bouquet de Lavandas

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Ontem à noite, fiz um bouquet de lavanda e pendurei-o atrás da porta do quarto: sonhei com teu aroma eriçando-me a pele, inebriando-me a alma, perfumando os meus cabelos. Vem, beija-me a nuca,  o pescoço, os seios,  beija-me a boca, me faz arder com teu cheiro.

Flor de amaranthus

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 Nos encontramos à beira do lago e caminhamos, juntos, por uma vereda triste de bambus arqueados, sob o peso do tempo. Vestias sobre os ombros o manto da noite          _nua_ trazias no peito um canto de rouxinol                                           arisco... Éramos eu e você e um amor imenso: explosão de romã madura com aroma de beijos. Agora, tens nas mãos a flor roxa e rara do hibiscus roxo. E um terço banhado a ouro, enrolado entre os dedos. Poema: Marisa Rodrigues Imagem: Catrin Weiz-Yelts