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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Vaso Quebrado

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De nós, restaram, dobradas todas as hastes do amor. A febre alta. Os verões incandescentes. As chuvas densas. Agora, tudo é silêncio e vaso quebrado. Poema: Marisa Sevilha Rodrigues Imagem: Christian Schloe

Neve

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Todo o branco da neve se derrete nos azuis dos seus olhos. Poema: Marisa Sevilha Rodrigues Imagem: Rene Magritte.

Tempestades de beijos

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Entre contínuas chuvas, lábios e paredes frios, ficamos intocados, décadas a fio. Podia ter renascido em tua rede de braços, neles deitar-me nua, às tardes lânguidas, cheirando a capim rosa. Deixar-me ficar  à espreita e à espera de tuas tempestades de beijos cálidos, e de tua língua túrgida. Podia ter plantado em mim, as sementes de tua geração. Teríamos contemplado, juntos, a face de Deus, de olhos fechados, pequenino, dormindo entre os homens. Dissestes não, com os dedos em cruz, sobre a boca amada. Agora, espio os raios do luar roçando o lago, ouço os pingos do silêncio gotejando sob as calhas da casa que, juntos, não construímos. Lembro dos teus lábios colados aos meus. Molhados.

Perfume de limoeiro

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Abro minhas narinas e aspiro o frescor da manhã: o sol com as mãos em conchas distribuindo raios, estalando os galhos exalando o perfume das flores dos limoeiros. Um enxame de abelhas sobrevoa o céu em busca de norte para a construção da casa. O  néctar agridoce das flores trai o gozo dos insetos. No meio de tuas pernas eu me desnorteio.

Inocência

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A água pura do lago quebra em pedaços a tua inocência. Despe-te para mim tuas vestes cor-da-mata.

Viajante andaluz

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Pela tua  garganta velejam os pássaros vermelhos da Espanha. Teus desfiladeiros e labirintos induzem os homens à perdição. Vestes a capa de estrelas da noite, teus ombros nús teus seios nús. teus sonhos nús. Espetas os olhos dos pássaros com tua espada encantada. As aves cegas desnorteiam-se ao teu redor. Viajas na escuridão das vielas podres como quem deslizas sobre a neve azul. Quisera poder ofertar-te o coração exangue do toureiro. Quisera.

Desespero

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Procuro em vão as pedras dos teus joelhos. Calcinadas, em desespero, as minhas mãos. Imagem: Devian Art

Vôo cego

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Espalho teus cabelos: vento indomável arrepio-te a pele com as mais doces carícias. Pego-te pela cintura e trago-a junto a mim. Nossas bocas inebriam-se com nosso próprio hálito. De súbito, pairamos, (sustenidos) entre o tempo e o espaço: _ pássaros perdidos num vôo cego entre o norte e o sul. Imagem: Laurie Blank

A casa dos nossos sonhos

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Recortamos a casa dos nossos sonhos e a plantamos na terra. No alto de uma colina entre um labirinto de mirtilos, abraçada por uma cerca de pássaros, entrelaçados. Os olhos da casa são azuis e miram-se no no espelho do lago. De suas janelas abertas de par em par contemplamos as estrelas do passado que ainda teimam em nos acenar seus adeuses. Nossa casa flutua no mar imaginário do teu peito. Ancora nos flancos entre as minhas pernas. Emerge nos flocos de nuvens do meio dia. Em nossa casa, deitaremos juntos, lado-a-lado até que a morte, irmã-siamesa de nossas vidas nos cerre os olhos, para sempre. Morreremos ouvindo o canto dos pássaros  de peito amarelo, fazendo festa nos chafarizes do quintal.                                                                                                                             Imagem: Kelly Vivanco

Ariadne

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A ondulação do vento despenteia os seus cabelos grisalhos. O vinho aquece tua garganta. Olhas para o céu azul, recortado de nuvens. Imaginas-te correndo entre as videiras outonais. Os pés descalços de Ariadne amassando as uvas, correm ao encontro dos teus pés, até alcançá-los na longínqua estrada. Então, ela deita-se na relva, ao teu lado. Trás o sabor das uvas tenras nos lábios, e o vestido manchado de vinho e sangue. Ariadne, agora, não é mais uma miragem.

Outono dos meus dias

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Sobre o teu corpo despejo  o cálice do meu amor tinto de vinho e sangue. Aspiro os beijos dos teus poros, um a um, recolho-os com a boca túrgida. Encho com eles minha ânfora, para que no verão  dos meus dias, eu possa me banhar com o frescor dos teus lábios. Omagem: Lauri Blank

Nua

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vertigem nua de folha verde querendo ser madura

Ariadne I

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Não há outro caminho. Nada. Nem as hastes do trigo se dobrarão a tua passagem. Pássaros entrelaçados cercaram a casa que habitastes no último verão. Não há outro caminho, senão a pressa da vida que te revira o estômago. Recolhe-te à varanda. Dedilhas uma canção de amor a tua Ariadne.

Sílaba vermelha

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de beijo em beijo beijo a tua boca silente sílaba vermelha seminua semínima sílaba a silaba beijo a tua boca beijo

Sonhos ao relento

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Eu ando pelas ruas, recolhendo sonhos, deixados ao relento. Espatifados pelo vento. Filhos bastardos do destino, largados pelas mãos invisíveis do tempo, à minha porta. Recolho-os, galhos e gravetos molhados, na última estação das águas. Seco-os com os cachos dos meus cabelos. Perfumo-os com o óleo dos jasmins, que florescem - sempre -, em novembro, e enfeitam a minha passagem, sem se importarem com a minha vontade. Embalo-os no berço fantasma dos filhos que não tive. E escondo-os de mim mesma, numa caixinha de música (antiga): -onde a bailarina está nua e tem as pernas quebradas.

Eu coleciono flores dos jardins dos outros

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(Para: Argênide Servilha, Lilian Shimizu, Mara Maciel, Thais Marquezi, Joana Woo, Carmem Quartim Madia e Heráclito Prudente Correa)  Eu coleciono flores dos jardins dos outros. Mal-me-quer bem-me-quer mal-me-quer Em tuas mãos depositei o cálice do meu corpo. Restaram as cinzas das horas, e uns ramalhetes secos,  pousados sobre os meus passos,  nas areias movediças de mim.  Eu coleciono flores dos jardins dos outros.  Mal-me-quer bem-me-quer mal-me-quer As pétalas decapitadas teceram um descaminho  entre a vida e a morte.  No céu, um luar suspeito, me vigia: - há séculos. Camburi/Litoral Norte de São Paulo , 31 de dezembro de 2012.