Entre contínuas chuvas, lábios e paredes frios, ficamos intocados, décadas a fio. Podia ter renascido em tua rede de braços, neles deitar-me nua, às tardes lânguidas, cheirando a capim rosa. Deixar-me ficar à espreita e à espera de tuas tempestades de beijos cálidos, e de tua língua túrgida. Podia ter plantado em mim, as sementes de tua geração. Teríamos contemplado, juntos, a face de Deus, de olhos fechados, pequenino, dormindo entre os homens. Dissestes não, com os dedos em cruz, sobre a boca amada. Agora, espio os raios do luar roçando o lago, ouço os pingos do silêncio gotejando sob as calhas da casa que, juntos, não construímos. Lembro dos teus lábios colados aos meus. Molhados.