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Mostrando postagens de junho, 2012

A Chave do Amor

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Trago a chave do baú pendurada ao pescoço. Várias vezes ao dia, costumo visitá-lo, às escondidas de mim. Me olho no espelho. Experimento um colar, sobre o meu colo nú. Visto um vestido antigo e danço sozinha uma melodia que só eu ouço. Só eu consigo fechar os olhos e sentir os acordes, de cada instrumento. A música é fria como lâmina e corta o meu coração em duas metades. Metade eu. Metade você. Danço. Danço. Danço. Mas não te encontro mais neste imenso salão de baile, onde as luzes estão apagadas e as bailarinas esqueceram as sapatilhas. De súbito, a música cessa. Eu me dispo do vestido e do colar e os trancafio no baú, novamente. Mas continuo com a chave pendurada junto ao meu peito. Durmo e sonho que à noite, você virá buscar-me e precisará desta chave, pra abrir todas as portas de nossos destinos: _ enfim, e para sempre, juntos. (poema dedicado às personagens do livro

Lua embriagada

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Foto by Marisa Rodrigues Dracena, SP - 2012 Breu!!! A lua bêbada inebriou-se com as àguas [desbragadas ] das chuvas e recolheu-se [aos túneis do céu]

Setembro

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Setembro chegou, de braços dados com a primavera. Meu corpo cobre-se de folhas.  Os pelos do corpo cobrem a pele do tronco, que já foi árvore. Raízes que já foram galhos, hoje são meus pés, fincados no chão. Para sempre. Sento à minha própria sombra e colho os cachos das acácias. O perfume dos ipês. A magia dos jasmins. Faço uma tiara dessas flores misturadas e enfeito os meus cabelos já brancos e desprovidos de qualquer vaidade. Não dá prá tingir a beleza do tempo com os tons vermelhos ou azuis, artificiais.  Setembro, teu outro nome é poesia, natureza em festa, passarinhos na minha varanda, oferendas de maçãs e cravos para Afrodite, arranjos de rosas com essencia de pitanga para Yansã e Yemanjá.

O azul sinistro do dia

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Acordei assim, recolhida ao azul sinistro do dia. Uma flauta celta despertou-me de meus sonhos longínquos, onde o fauno do labirinto me convidara para um chá das cinco, regado a ópio e cogumelos. ... Demóstenes estaria lá, a esperar-me na porta do inferno, mas, antes que eu pudesse apertar sua mão, selando nosso pacto de silêncio, o castelo de cartas desabou sobre nossas cabeças. O toureiro, meu herói de capa e espadas, não se apresentou no horário marcado. E eu e o touro, cá estamos, exaustos e abraçados, sem forças prá encarar mais um dia, que não sabe se chove ou se fica quieto, mas tem a dignidade de um batom vermelho.

O azul do meu dia

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Imagem:Michel Ogier E o azul do meu dia é  da cor cinza escuro do meu pranto. Esse manto tecido ponto a ponto por uma mão invisível. Mãos que manejam terríveis agulhas Numa malha infinita. Que tricotam os pontos nevrálgicos do meu destino, com a paciência de um  chinês. Um velho   que navega seu barco por um rio leitoso cheio de curvas e cascatas, sem medo do despenhadeiro logo à frente. É assim o azul do meu dia, feito de cacos de vidro e lágrimas. Um destino bordado pelas mãos calejadas do barqueiro. Esse incansável obreiro do tempo, esse eterno atravessador de almas. é assim o azul do meu dia, misto de cacos de vidro e lágrimas.