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Hoje não estou em mim

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Hoje, não estou em mim. Acordo. Abro os olhos bem devagar. O corpo parece ter sido esmagado por uma empilhadeira de sacos de sal. Tudo dói. A dor é a minha segunda pele. A dor é a máscara que me veste a face. A dor habita-me desde tempos imemoriais.Cava um túnel no meu coração e se esconde, feito um caranguejo ferido. Centenário. Cheio de garras, ele gruda-se às paredes sanguinolentas de sua caverna. Recusa-se a caminhar de encontro ao sol. Não quer enxergar o céu azul, exagerado, do meio-dia. As crianças morreram em vão, os pequeninos. O caranguejo decrépito é a metamorfose da dor. Suas unhas dilaceram as paredes do tempo. Um exército de vassalos hindus cavam túneis sagrados na escuridão do abismo em que se adentra. Eu quero beber a luz das estrelas para ser imortal por mais algumas horas. Mas o caranguejo-dor é mais forte do que essa minha vontade férrea. O caranguejo não vacila em seu propósito de ganhar a guerra. Avança e conquista territórios inabitados. E finca suas