Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que me abria as asas todas as manhãs prá me proteger dos cães famintos, sempre no meu encalso. Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que salpicava pétalas em todos os buracos do meu caminho prá que eu jamais pisasse em falso. Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que me trazia um guarda-chuva chines sempre que o céu escurecia ameaçando-me molhar os cachos. Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que que me adoçava o céu da boca com pedaços de pudim de pão, encharcados de mel e beijos lânguidos. Hoje, eu esfaqueei o meu velho anjo da guarda, já meio roto, fétido, alquebrado. Estava cansado o meu anjo da guarda, das minhas tempestades de vento e de se equilibrar, tênue, sobre as minhas areias movediças. E resolveu cruzar os braços.