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Mostrando postagens de outubro, 2010

Alvíssaras

A manhã lava o rosto em lágrimas de sol sombras calam o verde o mundo engasga-se (com a vida) Um estômago universal dilacera as vísceras atravessadas na garganta do mal. a fumaça expira bafos amargos. (a cinza é o excremento da dor)

Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda

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Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que me abria as asas todas as manhãs prá me proteger dos cães famintos, sempre no meu encalso. Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que salpicava pétalas em todos os buracos do meu caminho prá que eu jamais pisasse em falso. Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que me trazia um guarda-chuva chines sempre que o céu escurecia ameaçando-me molhar os cachos. Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda. Ele que que me adoçava o céu da boca com pedaços de pudim de pão, encharcados de mel  e beijos lânguidos. Hoje, eu esfaqueei o meu velho anjo da guarda, já meio roto, fétido, alquebrado. Estava cansado o meu anjo da guarda, das minhas tempestades de vento e de se equilibrar, tênue, sobre as minhas areias movediças. E resolveu cruzar os braços.

Tatuagem da separação

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Hoje acordei tatuada. Tatuada com a marca da separação. A espada afiada da ignorancia ceifou os longos anos de construção de um amor. Hoje estou tatuada com a dor da separação. Amputada. Foi-se um pedaço de mim. Não tenho forças para sair da cama, nesta primavera fria e chuvosa que já cai pelas beiradas de outubro. O tempo, maestro de sonhos, não quer mais reger essa orquestra sem músicos, onde a bailarina é manca. Decepada. A bailarina do amor tem os pés amputados. E sangra.