Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda

Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda.

Ele que me abria as asas todas as manhãs
prá me proteger dos cães famintos,
sempre no meu encalso.

Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda.

Ele que salpicava pétalas
em todos os buracos do meu caminho
prá que eu jamais pisasse em falso.

Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda.

Ele que me trazia um guarda-chuva chines
sempre que o céu escurecia
ameaçando-me molhar os cachos.

Hoje eu esfaqueei o meu anjo da guarda.

Ele que que me adoçava o céu da boca
com pedaços de pudim de pão,
encharcados de mel  e beijos lânguidos.

Hoje, eu esfaqueei o meu velho anjo da guarda,
já meio roto, fétido, alquebrado.

Estava cansado o meu anjo da guarda,
das minhas tempestades de vento
e de se equilibrar, tênue,
sobre as minhas areias movediças.

E resolveu cruzar os braços.

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