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Mostrando postagens de janeiro, 2010

As quatro estações do amor

I Um era o selo. O outro, a carta. Um ar cúmplice, de correspondência certa, os unia. Um era o trem,o outro, os trilhos. Um era o pão, o outro, a faca. II Fazíamos pic-nic na cama, todas as manhãs com a cumplicidade do chinelo às panelas. Num bolero de Ravel,tudo era riso e festa, entre biscoitos e cobertas. Agora, se te pego rindo, você me pede desculpas e diz que não foi nada. III Hoje, fico a espera de um outro homem, vindo não se sabe de onde. De outra galáxia, talvez. Numa espaçonave azul-esférica. De uniforme branco, resplandescente. Um homem sem emoções, que me mate de prazer e dor, sem me amar. Porque ser feliz é muito chato! IV No vaso, as flores estão secas. O batom escorre pelos cantos dos lábios, também secos. No espelho, o poema não resistiu a tanta saudade. Não sobrou nada. Nem um fio de barba na pia do banheiro, nem uma navalha na carne. A casa já não rescende mais ao cheiro de Omno e incenso. Está morta. Ir