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Mostrando postagens de janeiro, 2014

O canto da carroça

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a carroça de meu pai cantava sete léguas até o coração (da estrada) na varanda minha mãe  esperava-o com bolinhos de fubá e queijo meu avô trançava couros engolia o bigode mascava fumo cuspia nas mãos na tarde longa vacas ruminavam tédio com capim  Ilustra: Marc Chagal 

Último beijo

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a hora mágica chegou ao fim. do último beijo ressoa o estalar de línguas. o monstro recolhe suas garras e retorna à forma original: ( frágil caracol intumescido, que cresce para dentro) Ilustra: Fang Ling Lee

Esconde-esconde

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Dentro do quarto  o sexo é a flor central onde um gato brinca de esconde-esconde. (limpa a cara e lambe as patas) Uma cobra sai do espelho e morde as pétalas da gigantesca rosa amarela (que ri e mostra os dentes) Ilustra: Fang Ling Lee

São Cosme e Damião

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a poesia há tempos não me visita queria tanto dizer algo sobre o gambá morto no jardim: _ o funcionário executando ordens. um vaso de arruda na porta do barraco (de barro) São Cosme e Damião  quatro olhos nas luzes da esquina do coração nas paredes do tempo orgia de espelhos refletem a alma  do que não sou não és não somos à penas estamos: berloques pendentes  de um Pescoço Supremo. Ilustra: Digital Art

Algóz de mim

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lençóis de água cobrem teu corpo anéis de luz cobrem teu sexo teu gozo algóz de mim

Cigarro de palha

a tarde era de chuva. rede na varanda                                    ba-lan-ça-va o vendedor de livros não convencia. Aflito, consultava as horas. pai tirava palha de um bolso, um canivete do outro,  pi-ca-va- fu-mo enrrrrrrrrrrrrrolava um cigarro na palma da mão: com jeito de quem sabia tudo,  tragava O MUNDO. 

Não somos a primeira vez

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    Beijei os seus olhos em minhas mãos e parti. Não fosse a noite (quente) teria ficado dentro: _ "Nãos somos a primeira vez", disse, de cócoras, à beira do fogão.  brasas ardendo lenha vermelha fumaça branca furava telhas Noite sem estrelas, não deveria haver... Imagem:  Audrey kawasaki Assis, Sp - 1981

Saint Francisco Night

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Põe mais uma ficha na Juke Box e cantarola baixinho: "saint franciscooo niiiight",  meio rouca, pigarreando cigarro e uísque barato.  O bordel está às moscas.  Só um trio de bêbados  ainda teima  em tomar uma ultima cerveja. Ela já os expulsou algumas vezes.  Eles insistem em ir ficando,  noite adentro. Seus corpos vão se desfazendo, malemolentes, aderindo - esponjosos -,  às cadeiras, às mesas. Agarram-se às garrafas. Apertam-nas contra o peito.  Quem sabe no último gole,  a flor da esperança aflore na borda dos copos,  penetre suas gargantas, entranhe suas  raízes em seus corpos mal-cheirosos e lhes devolva alguns centímetros cúbicos de vida.  Saint Franciscooo Niiiight,  cantarola, baixinho, a cafetina triste,  a cabeça pendendo, jogada prá trás, despencada sobre o sofá.  Sorri um riso amargo,  mas ainda mantém os dentes muito brancos:

Relogio da agonia

..no relógio da agonia,  são 4 horas e 17 minutos... não sei de que tempo