Postagens

Mostrando postagens de abril, 2013

Parede de vidro

Imagem
sinto o toque dos seus dedos roçarem minhas costas, minhas nádegas. sinto a vontade de sentí-los suaves (sorrateiros) deslizando sobre a minha pele. mas é uma vontade fragilizada, agora. uma parede de vidro intransponível se ergueu entre nós. Muros. Berlim. Lamentações. Agora, a gente se vê, mas não mais se enxerga nos olhos um do outro. Você me deseja, mas perdeu o mapa do meu corpo. Imagem: Adrian Borda

Salve, Jorge

Imagem
                                                                     (mais um “santo brasileiro”, senhor das causas impossíveis!!!) Acordo com um dragão montado em minhas costas. Faço malas, desfaço-as, esqueço meias, lenços e sapatos embaixo da cama. Nas gavetas.   Os lençóis amassados me desembalam sonhos e pesadelos. Noturnos. Notívaga.  Na porta, um lenço amarrado. De adeus. Faço malas, desfaço-as. Nunca chego ao meu destino. Destino???Ou mala suerte. Nem São Jorge explica-me o que faço aqui. Sua espada lancinante fustiga-me a alma a todo instante. Não tenho pernas, mãos ou braços para um afago. Neste jogo, não entro mais. Quero pular amarelinha, mas meus joelhos estão dobrados. Para sempre. Presidente Prudente, 23 de abril de 2009.

A casa dos espelhos

Imagem
                                                                              (Para Maze Manzano e sua mãe, Antonietta) Hoje tenho um encontro marcado com a criança das minhas memórias.  Visito a casa dos espelhos. Um trio de corujas me espera no portão.  As marias-semvergonhas resistem: alegres cercas vivas ainda não demolidas pelo tempo.  Num canto escuro da sala a esfinge de um gato m espia com um olhar cético.  Um cheiro de doce-de-abóbora emerge dos porões empoeirados de minhas narinhas. Antonietta ainda areia panelas e brinca de plantar trepadeiras nas fronteiras de seus sonhos.  Nas estroncas, ela espalha cabeças de alho,  prá espantar os maus espíritos.  tão caquéticos que já não assustam ninguém.  Na casa da minha infância o tempo escoa por uma gigantesca peneira que Deus abana, sem cessar.. Imagem: Nicoleta Ceciolli Dracena, 13 de abril de 2013. 

Os cabelos das horas

Imagem
Eu puxo as horas do relógio, pelos cabelos, e assopro a lamparina do quarto. Um resto de luz bruxuleante desenha figuras dançantes nas paredes nuas. Fantasmas antigos teimam em me acompanhar, desde menina. Chamava minha mãe gritando "mãe, oh! mãe, a pretinha da lamparina quer me pegar" . "Pega não, fia, pega não." Ainda ouço os gritos das almas penadas, presas nos umbrais. Tento tocá-las com as mãos em cruz, mas meus dedos descarnados não mais atravessam as paredes frias, deste quarto solitário. Derrepente, um chafariz se abre no teto e uma revoada de cisnes azuis vêm banhar-se nas àguas da madrugada. Molhada, eu me olho no espelho e me enfeito com colares de estrelas e sementes. De peito aberto, enfrento os ouriços do mar. Peixes espadas mordiscam minha cauda de sereia. Mas, o meu canto, a muito tempo ficou mudo. Nenhum pirata ou marinheiro, jamais se perderá no mar bravio subjugado pelo som das minhas insones cítaras. Em vão, es

Efêmeros

Imagem
Efêmeros. Somos efêmeros: flores da delicadeza arrumadas com esmero nos vasos do improviso: efêmeros. Imagem: Zhao Chun

Maçãs da Delicadeza

Imagem
Disponho sobre o prato as maçãs da delicadeza. Mordo os lábios: sinto o gosto do seu beijo.                 Imagem: Matsumoto

Amor demolido

Imagem
De nós restou o amor demolido e uma vontade estúpida de chorar: lágrimas secas --esturricadas -- flores mortas sobre o seu túmulo. Imagem: Nicoletta Ceciolli

Guerreira

Imagem
Carregas nas mãos um feixe de fuzis azuis. E a pomba da paz sobre os ombros. Alma absorta, mas pertinaz: caminhas sobre trincheiras.

Fome dos teus abraços

Imagem
Atravesso a existência passo-a-passo. Não respiro. Temo que ouçam os meus passos silentes. A boca do sapato aberta: es-can-ca-ra-da O gosto de fome dos teus abraços. Imagem: Nicoletta Cecolli

Autobiografia

https://m. Porquê era muito doce, eles a comiam com garfo e faca. Imagem: Nicoletta Ceccoli

Setembro é azul

Imagem
Em setembro virá o perfume da florada de limoeiros. Tua pele acetinada refletirá a imagem das flores brancas. Teu hálito exalará o aroma agridoce dos frutos verdes e tenros.  Deitado, à sombra dos chorões, eu contemplo tua beleza refletida nos lagos lunares dos teus olhos. Eu te espero chegar na próxima estação das flores. E te desenho nas minhas páginas interiores. Te pinto de azul. E te batizo com um nome de flor. Imagem: Laurie Blank

Vinho derramado

Imagem
Abril é um mês cruel. Os ramos de oliveiras castigam os ombros nus do pastor de ovelhas. Os pescadores de almas sentam-se às margens dos rios, em quarentena. O homem foi cruxificado em nome dos pagãos do mundo. Não adiantou. O vinho já estava derramado. Poema: Marisa Sevilha Rodrigues Imagem: Catrin Weltz Wtein

O silêncio dos grãos

Imagem
 Para Neuci Lima, in memorian O anjo continua lá fora sentado à cabeceira do meu túmulo. Vigiará as minhas horas para sempre. Aqui embaixo é tudo escuro. Os meus cabelos cresceram e se enraizaram na terra. Sinto o gosto de cogumelos frescos que crescem no céu da minha boca. O meu corpo desliza pelos profundos oceanos da terra. Nave interestelar que se perdeu de sua galáxia. Ainda sonho com teu beijo sequioso com gosto de morangos frescos, após o jantar. O prato de lentilhas fumegante sobre a mesa. O pedaço de pão apoiado na borda do prato. Os talheres dispostos, sempre do mesmo jeito: uns sobre os outros, a indicar o desejo escondido entre os grãos. O silêncio dos grãos. As mãos caladas de adeus. E de carícias. Inertes. Ainda sinto a volúpia dos teus braços enlaçando-me a cintura. Agora, as corujas piam no horto dos chorões, que sombreiam as fileiras de túmulos. Meu corpo apodrece e minha alma pagã não descansa.