A casa dos espelhos


                                                                              (Para Maze Manzano e sua mãe, Antonietta)



Hoje tenho um encontro marcado
com a criança das minhas memórias. 
Visito a casa dos espelhos.

Um trio de corujas me espera no portão. 
As marias-semvergonhas resistem:
alegres cercas vivas
ainda não demolidas pelo tempo. 

Num canto escuro da sala
a esfinge de um gato
m espia com um olhar cético. 

Um cheiro de doce-de-abóbora
emerge dos porões empoeirados
de minhas narinhas.

Antonietta ainda areia panelas
e brinca de plantar trepadeiras
nas fronteiras de seus sonhos. 

Nas estroncas, ela espalha cabeças de alho, 
prá espantar os maus espíritos. 
tão caquéticos que já não assustam ninguém. 

Na casa da minha infância
o tempo escoa por uma gigantesca peneira
que Deus abana, sem cessar..


Imagem: Nicoleta Ceciolli



Dracena, 13 de abril de 2013. 

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