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Mostrando postagens de julho, 2014

GÉRBERAS DESBOTADAS

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As gérberas insistem em nascer entre as saias das samambaias, mas crescem desbotadas, sem o abraço do sol. Eu, mensageira da agonia, perambulo  pelas ruas da cidade onde o sol nunca nasce, nem se põe. A cidade das trevas, das cercas de arames farpados nas janelas, de onde crianças deixaram as marcas de suas mãos, agarrando-se  ao último fio de cabelo de suas mães, antes de serem lançadas no espaço.  Cidades de cruzes e túmulos de soldados que nunca viram uma guerra de perto, pois lhes bastam a queda de braço com o cotidiano.   Cidade de muralhas invisíveis aos olhos nús, mas que impedem a passagem até dos seus próprios fantasmas. Eu, passageira deste trem da agonia, descarrilho entre os vãos e desvãos da memória, tentando encontrar uma só réstia de luz, onde os meus olhos possam descansar, antes de fechá-los para sempre. Mas o labirinto da cidade que habito não tem porta de saída. Só de entrada.  Como eu, encontro outros  que perambulam nessa vastidão negra, tateando portas e p

Peleja com fantasmas

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Nas armadilhas do tempo me emaranho, musa dos poetas malditos e descalços, vestida com o manto da noite, cravejado de estrelas em busca da rosa dos ventos que me indica estradas  que não quero percorrer,:  _lá, existe um norte, porém sem atalhos. Eu tenho medo das ruas sem saída,  dos bêbados da minha infância,  do homem assassinado da casa em frente à minha,  do seu caixão de madeira vagabunda,  pingando sangue ainda fresco no chão. Tenho medo do homem que chicoteava a mulher,  à beira de um barranco. Medo da cobra que tentou morder meu irmãozinho, no quintal, embaixo do pé de manga; medo da convulsão dos anjos no meu enterro de mentira. A morta não era eu. Mas eu me vi sendo enterrada viva no lugar da virgem noiva-cadáver. Os lábios do noivo  -- intatos ao beijo -- para sempre.  Lábios que eu desejei beijar e por isso, castiguei-me  em seu sepulcro, ainda fresco,  ainda cheio de margaridas e abraços de adeuses.

Êxodo

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Êxodo ...eu e minha fauna voltando pro nosso mundo onírico: a caverna escura dos nossos sonhos inconfessáveis. Perdi o emprego de contadora de estórias,  não paguei a prestação do Minha Casa Minha Vida e fomos todos despejados. Pedi um caminhão de mudança, mas ninguém atendeu ao meu chamado. Eis que eu e minhas fantasias de Alice, Coelho Maluco, Pequeno Príncipe e o Pinóquio ficamos à pé, na poeira. Sem contar os animais de estimação de cada um deles: o peixe, a tartaruga, o cisne e até o tatu-bola, que esteve fazendo uma ponta como símbolo da Copa 2014. Este então, voltou sem lenço, nem documento. Mas agora, estamos todos juntos. Condenados ao desterro. Imagem: Tom Bagshaw