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Mostrando postagens de maio, 2011

Você arrasta correntes, e eu quero voar.

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Você arrasta  correntes, enquanto eu quero voar.   Eu sou o pássaro vermelho, o mais raro e arisco. Não me arrisco a pousar nas tuas mãos. Elas são frágeis. Mãos de louças. Mãos forjadas no leite. Mãos que se desmancham, sopradas pela areia do deserto. O meu canto é triste, mas contínuo. Vem enrredar-se comigo, embaixo das cobertas. Solte as amarras dessa trouxa frouxa. Deixa cair tudo pelas barrancas do rio. Deixa rolarem as pedras. As folhas.   Não existem emendas em minha boca. Eu assopro velas de madrugada prá deixar todos os fantasmas invadirem a casa. Varar paredes. Furar telhas. Temperar as minhas coxas com vinho e mel. De que adianta ser louvadeus, se o seu destino é ser fardo nas costas das formigas? Sou pé de carambola, mais que oferecida. Caindo de madura, mas não arredo pé da terra que abraça as minhas raízes. Eu sou aquele pássaro vermelho e arisco que não quer saber de andar em bando. Eu não me arrisco diante da tua janela. Sou triste, sim, mas quero voar. Camburi

Refúgio

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                                                                                                       (Para Bruna Lombardi) Vontade de me sentar num raio de sol,  me enrodilhar num sorriso quente, com gosto de morango fresco, e esquecer o inverno que habita o  âmago das pedras. Vontade de me aprofundar neste refúgio quatro cantos deslocados no espaço e entrelaçar-me num amálgama de líquens, num misto de fungo e alga, de fogo e água: _ desejo de apagar este vulcão indeciso,    verão teimoso. Vontade de esconder-me nas entranhas minhas, mergulhar profundamente, de cabeça, até o lado oposto da certeza... sinto deixar seus lábios me esperando, com medo de que eu não retorne à tona. Sinto! Mas se já não me atraem as cores, nem o brilho dos teus olhos de ágata, águia que me amedronta, mesmo sabendo que sou tua caça.

Concepção

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a hora mágica chegou ao fim do último beijo ressoa o estalar de línguas o monstro recolhe suas garras e retorna a sua forma inicial: frágil caracol intumescido que cresce para dentro