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Mostrando postagens de junho, 2015

Solstício de inverno

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                                                                              Para João Cabral de Mello Neto Na noite mais longa do ano os galos tecem com seus cantos as pontas soltas do alvorecer. A madrugada tem todas as cores                [do arco-iris] mas a música que chega aos meus ouvidos vem de um profundo lamento: das mães que choram a morte de seus primogênitos. Os galos pintam rosáceas na abóbada do céu. De suas esporas, pingam gotas de sangue. 

O TEMPO NO ESPELHO

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                                                                                              Para Octávio Paz  O tempo é um homem descabelado, à beira do abismo,  com um pé no passado,  e outro no futuro, em pleno vôo cego, em direção a morte,  ao não-tempo, às sombras que brincam de esconde-esconde  entre as passagens secretas do sol e da lua.   O tempo é uma mulher desesperada,  que pare um filho atrás do outro, arrancando-os de si mesma, e matando-os,  antes que dêm o primeiro choro; uma mulher que tenta, sozinha, despovoar o mundo,  com seu gesto tresloucado. O tempo é um homem e uma mulher,  que nunca se encontram; que vivem escondidos  entre as dobras dos sinos, e as sombras da noite,  que se amam, mas nunca se tocam. Por isso, eles incendeiam o sol,  apagam as estrelas de todas as galáxias,  amaldiçoam os que nascem quando os ponteiros apontam para o infinito;  revolvem as entranhas da terra,  e atiçam as fúrias dos mare