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Mostrando postagens de 2009

Vou-me embora para Pasárgada

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Lá, nas horas largas e fugidias, enquanto a rainha se atormenta com cremes, espelhos e rugas, eu tenho todos os homens do mundo, embaixo de minha janela, me fazendo serenatas e me chamando de “Bela, oh! Bela”, mesmo que eu me sinta a pior das criaturas, mesmo sendo eu esta besta-fera. Lá farei um enxoval interminável na doce companhia de Helena, e, ainda que meus dedos, de tão toscos, já não caibam mais nos dedais, lá isso não tem nenhuma importância, pois o tempo não passa em Pasárgada. Lá, tudo permanece, para sempre. O feio é feio e o belo é belo. O bom e o mau convivem, e ambos não se aniquilam, nem duelam. Em Pasárgada posso dar longos passeios de bicicleta, muito bem acompanhada pelo poeta Lá, jamais esquecerei do chapéu, que me cobrirá do sol, ardente e arfante, como os seios de Eleonora. As tardes, sentar-me-ei à beira das sete fontes e encherei os meus jarros dágua, para com elas matar minha sede, molhar

O Anel era Vidro e se Quebrou

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                                                                                                                                                                             Se os teus cabelos, agora prateados, desfalecem nas pradarias até onde meus olhos alcançam, como posso ter ombros fartos para suportar o peso dessa jornada? O anel que tu me destes era vidro e se quebrou. E o olho de tigre que eu trazia pendurado no pescoço, esticou suas raízes bem no centro do meu peito, e, agora, é uma àrvore frondosa, à sombra de quem posso descansar, quando, finalmente, é chegada a primavera. Agora, não tenho mais que acordar de madrugada para olhar o céu,  e contar as estrelas, uma por uma: Estou sem fé, fotos ou notícias que sirvam de enredo  para publicar a estória  de minha via crucis. Não carrego mais malas,  nem desço sozinha na próxima estação das flores, pois sei que você não estará mais lá, com seu charme de homem na idade do lobo e as imensas asas de anjo,

Noturne de Choppin pour Isis

Elle nageait nue dans la piscine gelée, au dessus de la lune, au dessous des poissons, entre le néant. Le tout et le présent, une fin en soi même. Une douleur dans le sein en fleur. Un chagrin. D'amour. Un amour quasi parfait. Plus que parfait. Un passé. Un présent en transe. Un être qui nage, devient sirène. Charme les mers et les navigateurs. Décoiffe la coiffeuse de la sainte. Une transition. La dernière minute du passé, plus que le présent. L’orgasme. Le vomi de la fleur de sel. Le cobra qui s'enroule qui rit et montre les dents aux voyageurs. Aux chiens errants. Un nocturne presque de Chopin. Un bref la. Un rut. Un doux baiser--brulant-- sur le front de la mère morte. Du revers flétri du paletot, tombe la fleur blanche. L'ombre étroite du père. La tête de la fille ne se loge plus dans son embrasse. Une douleur. Août. Un présage. Les bras du mort n'enlacent plus la taille fine. Presqu'une cloche. Une guitare. Parfaite. Les cloches du vent s'

Eu sempre esqueço o chapéu

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( Eu e Regina, a pianista, num sarau de poesias no Reveillon, na Pousada De Camburi. Presente antecipado de aniversário!!!!!!!!!!!!) Vou à praia, mas sempre esqueço o chapéu. Enquanto caminho, fotografo folhas secas, meus passos na areia, troncos apodrecidos, trazidos pelas ondas. Mar. Montanhas. Pedras. Céu. O homem do violoncelo não veio ontem à noite. Parece que se perdeu em devaneios, com a bailarina dos sete véus. Reunidos em volta da fogueira, cantamos e dançamos. Chamamos chuva. Olho-me no espelho e arrumo a flor que brota entre os meus cabelos. De manhã, ela já é uma trepadeira e cresce pelos meus muros interiores. Eu sempre esqueço o chapéu. Espio pelo buraco da fechadura e descubro a enxadrista trancafiada lá dentro, no alto da torre, Enquanto o bispo foge com a rainha montado no cavalo branco. O rei está nu e se ajoelha diante do peão. Emudecidos. Um diante do outro. O guerreiro entrega-se ao destino do arco. Cabeças rolam pelo tabuleiro. Sob uma fra