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Mostrando postagens de novembro, 2012

Detalhes Sórdidos

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A vida não economiza nos detalhes sórdidos.     Eu continuo esperando as cores de Frida Khalo que    você    me prometeu, mas não sei o que me aguarda na    próxima estação das águas. Arrumo malas, observo a chuva, pronta para mais um feriado solitário no Morro dos Ventos    Uivantes. De vez em quando, esmago dragões com as pontas dos dedos. Eles soltam pequenos gemidos de prazer  e exalam um odor de flores-cadáver. Não, a vida não economiza nos detalhes sórdidos. A morte avisa pelo facebook que recrutou para o seu exército de desvalidos, o irmão de    Sofia. Tomo um suco de berinjela, prá me reanimar do choque, mas minha garganta está fechada. Quero gritar o seu nome, mas não consigo. Está tudo tão solto e desconexo na minha cabeça, que não me reconheço, mais. Sou    a versão feminina do Bispo do Rosário: junto paus, pedras, trapos, sucatas no intento de construir um barco seguro prá nós dois,  mas as tsunamis da vida

Morgana

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Ela se olha no espelho e se descobre Morgana, a fada poderosa de Camelot. Não teve o amor do pai, de Lot teve sexo e não sabe aceitar a mão estendida de Arthur. Morgana é rainha de um reino imaginário. Um reino que existe do outro lado dos espelhos, nas profundezas dos lagos. Ela é rainha das sombras. Seus domínios não são deste mundo. Ela conhece o gosto do alho, das teias de aranha e das unhas ressequidas dos pés. Ela sabe a receita das poções mágicas e consegue ler o livro que todo homem trás escrito em seu coração. Morgana é a mulher que nos habita desde que Eva sentiu o gosto da maçã, desde   que Maria concebeu Jesus desde que Madalena deixou-se beijar por Cristo. Morgana existe em mim e em você. Ela é a nossa mulher atávica. Ela tem o dom de fazer lindas tranças com nossos cabelos.   E perfumar-se com óleo de rododendro para as intensas noites de amor com seu cavaleiro negro. Ela compreende a língua do

Fantasmas nossos de cada dia

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A gente foge dos nossos fantasmas, mas eles nos perseguem vida afora. Fechamos portas e janelas, mas eles se esgueiram pelas calhas do telhado, nos espiam pelos furos das telhas, pelos buracos das fechaduras e  adentram, sorrateiros, nossas casas. Se escondem dentro dos nossos armários, vestem as nossas roupas. E nos espreitam, cínicos, pelo olhar das tias e avôs ( mortos) asfixiados em seus retratos. Os nossos fantasmas comem os restos dos nossos pratos.

O cão em eterna vigília

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O cão em eterna vigília I E o cão fez vigília à minha porta, na noite escura. Tentei acender uma fogueira de gravetos, recolhidos durante a jornada, mas eles estavam molhados. O vestido branco bordado com poemas, não me serve mais. Caminho nua. em meio à tempestade. O barqueiro passa ao longe com seus lampiões acesos no convés, mas não me enxerga na noite densa. O anel de pedras coloridas ainda brilha no meu dedo indicador. Ele poderia ser a minha bússola, mas não é. II Eu me desoriento na penumbra, em meio aos cadáveres que teimam em se levantar de suas tumbas. Mas sigo em frente. Não temo o açoite de raios e trovões que ribombeiam sobre a minha cabeça. Insisto. A estrada é escura a minha frente. Mas uma lua de prata, ilumina-a, vez ou outra. Os javalis uivam a minha passagem. Os cães ladram. As crianças choram e pedem pão. Mas dentro de mim, só trago ausências. Desilusões. Perdas. Um punhado de dentes cus