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Mostrando postagens de novembro, 2013

Cadafalso

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Novembro com manhãs enevoadas,  quentes, e tardes amarelas. Eu flutuo entre as horas do dia,  sereia espremida num aquário trincado,  só esperando que suas paredes de vidro  se espatifem ao meu redor. A tensão cresce no meu peito e não há música capaz de expressá-la.  Quero dançar,  mas o espaço exíguo  limita meus movimentos.  Estou dobrada e amassada,  à beira de um cadafalso. Imagem: Adrian Borda

Flor-de-Lotus

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A flor-de-lótus era branca e crescia nos seus pulmões. O ar, cada vez mais rarefeito. As paredes ao seu redor, fechando-a, em uma redoma. Estreitavam-se. Cobriam-se de heras e teias de aranha. Em seu leito de morte lia Sartre, mas ainda acreditava no amor. A mulher e sua flor-de-lótus branca. Um dia, a flor-de-lótus estendeu seus galhos ao leste, e penduradas neles, nasceram estrelas cadentes. A mulher sorriu. E entregou-se à música que,  nua, dançava, e se enroscava, em seus pulmões. Imagem: Christiane Vleugels

Sinos de Vento

Neste outono cinzento e frio, dobram os sinos de vento que você pendurou  nas varandas do meu coração. O som adocicado, assoprado pelo roçar dos leques desperta a ternura dos anjos. Em bandos, eles vêm vigiar o meu sono, inquieto, ou espreitar os meus pesadelos, mais funestos. Sonho com pássaros ardendo em chamas. Flores abrindo-se em pétalas, feridas. Mil-cores desmaiadas pelas aléias dos meus jardins,   mim interiores. Uma mulher imponente, surge numa biga romana, puxada por porcos. Vestida de negro, uma condenada se debruça sobre uma ossada (clandestina) e recolhe artelhos femures crânios braços antebraços joelhos Arruma-os num carrinho de mão e sai a empurrá-lo pelas ruas de Belém, com a indiferença cúmplice de toda a cidade. Um homem nu, vem ao meu encontro, montado em um cavalo vermelho com uma máscara de canibal. Mas o sonho mal não termina ainda: os homens do frigorífico me arrancam nua da cama amarram meus braços e tornozelos, e me enfiam num varapau. Me exibem como um