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Mostrando postagens de julho, 2015

Poema para Plutão e Richard Harris

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plutão em trânsito com Saturno, ostenta, exibido, suas quatro luas nos céus,   e eu aqui pendurada no lustre,  treinada por  malabares exóticos,  enquanto o rinoceronte azul dorme e ronca no sofá da sala. Richard Harris sussurra uma canção no meu ouvido e eu volto num tempo em que nunca vivi _ passado e presente se confundem nas telas oníricas dos meus sonhos. Não sei quem eu sou, ou onde estou se tudo já passou, ou não. Grão de areia entalado na ampulheta, esquecida sobre a mesa. [poeira cósmica crisálida aranha enroscada na teia] estou acuada na garganta da vida alguém retirou as baterias do meu relógio biológico pregando-me uma peça de muito mal-gosto e eu não sei mais o que fazer : titereiro do meu próprio destino, minhas mãos  -- hoje -- acordaram com artrose Imagem: I give you my heart Adrian Borda

MEMÓRIAS AZUIS

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MEMÓRIAS AZUIS (há dias em que é preciso ter um cemitério de peixes lá no nosso fundo. abismo. não deveria ser assim, esse tumulto. fomos lançados contra o tempo futuro, nos  entregamos sem saber, sem sentido. talvez nossos encontros sejam feitos de memórias  vencidas.) Renato Silva No abrupto mar azul de nossas memórias, alguma coisa explode em chamas. Uma mulher pegando fogo no meio da rua. Um labirinto de borboletas esvoaçando em torno do nada. Tudo evanescente. Etéreo. Incorpóreo. Pele subrreptícia, que não adere. Ferida que não cicatriza. Andamos em paralelas que nunca se cruzam, nem se tocam. Andamos em círculos, até chegar à beira da catástrofe. Até ultrapassarmos todas as fronteiras da tragédia. Até nos lançarmos sem paraquedas, em direção ao buraco negro que nos habita.  Só o nosso umbigo, no mapa de nossa vã existência. E depois um vazio. Um deserto de esqueletos atrás das portas. Um ex-grão de areia no universo, visív

Não-diálogo

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você me chama prá te ajudar a colher pinhões eu levo a câmera fotográfica e um cachorro por testemunha. Nada mais há entre nós, senão o som das castanhas caindo das araucárias; o silêncio chiado das folhas, amassadas pelo salto das minhas botas em passos nervosos, num andar desajeitado de quem faz pose de que não está nem aí; você brinca com o cachorro; instiga-o a procurar lobos em pele de carneiros; ensina-o a comer pinhões crus e eu ali, sem saber o que fazer com minha câmera profissa: -- se tiro um retrato 3 x 4 de nós dois e mando providenciar os papéis do divórcio; ou se balbucio um desejo de abraço. uma vontade de me atirar ao seu pescoço, mas tudo o que consigo é gritar-lhe a minha raiva pois você não entende mais os sinais do meu corpo parece que agora estou escrita em braille e você não quer  mais aprender novas lições de amor; o facão faz zipzap no matagal; seu braço forte vai derrubando samambaias, pequenos ar