MEMÓRIAS AZUIS
MEMÓRIAS
AZUIS
(há
dias em que é preciso ter um cemitério de peixes lá no nosso fundo. abismo.
não deveria ser assim, esse tumulto. fomos lançados contra o tempo futuro, nos
entregamos sem saber, sem sentido. talvez nossos
encontros sejam feitos de memórias
vencidas.)
Renato Silva
No abrupto mar azul de nossas memórias,
alguma coisa explode em chamas.
Uma mulher pegando fogo no meio da rua.
Um labirinto de borboletas esvoaçando em torno do nada.
Tudo evanescente.
Etéreo.
Incorpóreo.
Pele subrreptícia, que não adere.
Ferida que não cicatriza.
Andamos em paralelas que nunca se cruzam, nem se tocam.
Andamos em círculos, até chegar à beira da catástrofe.
Até ultrapassarmos todas as fronteiras da tragédia.
Até nos lançarmos sem paraquedas, em direção ao buraco negro
que nos habita. Só o nosso umbigo, no
mapa de nossa vã existência. E depois um vazio. Um deserto de esqueletos atrás
das portas. Um ex-grão de areia no universo, visível apenas pelos seus vestígios
de sangue.
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