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Mostrando postagens de 2005

Réquiem Para o Velório de um Poeta em um Domingo Roxo

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I Cheiro a camiseta molhada de suor e sinto a brisa refrescante,  lavando-me a alma e a cara. Desabalada carreira, despenhadeiro abaixo, precipício aberto. Não me importo mais com a hora da chegada Não mais quero os louros e as glórias da pole position. Aliás, nem a vitória quero mais. Dispenso congratulações e salamaleques _fidalguias, fidalguices, alegorias!!!_ Deixo cair a máscara da desgraça e levanto a cabeça desse mergulho cego. Desperta, dispo-me da fantasia de Gata Borralheira. Sou Alice no País das Maravilhas. E estou acordada. II Agora posso me permitir olhar pelo buraco da fechadura e descobrir o pescoço do cisne chacoalhando-se de um banho rápido na xícara de chá. Danço com todos os coelhos da minha rua e eles não têm mais que me apresentar suas cartolas, nem certidões de nascimento. A bicha da minha rua é Divina e eu sou a única espectadora de seu show solitário num domingo pleno de sol, ao meio d

Os secretos aposentos do Barba Azul

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Pulei a janela da noite e me refugiei embaixo do galinheiro. A flor vermelha do cactos era tão exuberante que eu fiquei cega, por alguns instantes. Adentrei pela escuridão percorrendo desertos gelados, paisagens frias e cheias de cruzes. O lagarto amarelo pousou no meu ombro e durante dias e noites foi meu fiel companheiro de intermináveis jornadas. Em bosques exóticos cavalguei cavalos enfeitados com flores e sinos nas baldranas. Com a ajuda dos duendes e reis destronados, teci rendas e redes, com minhas mãos descarnadas e agulhas enferrujadas. Tentei abrir todas as portas do velho castelo, e elas se desmoronavam antes que se completasse o círculo da chave. Não vi os esqueletos dependurados no quarto escuro do Barba Azul. Com teias de aranha tricotei uma malha para aquecer-me nessa caminhada solitária. Mas, em farrapos, ela já não mais consegue cobrir os meus ombros nús, os meus seios nús, os meus sonhos nús. Minhas mãos postam
Queridos amigos: vou passar o feriadão pondo ordem no caos dos meus poemas, escritos aqui e acolá, agora que pretendo “ser” uma escritora séria...rs...dessas com livros publicados, leitores(será???),no mínimo uma biblioteca recheada de preciosidades, ainda que nunca lidas!!!!e ao abrir o computador, dei de cara com esse poema que , modéstia a parte, acho lindo, e completa dez anos, junto com a Activa Press. Talvez entre no libreto das comemorações da casa, Mas vcs recebem-no, antes...e já têm uma desculpa para o doce ócio da leitura, nesse tristonho 21 de Abril, de Tiradentes, que nem praia vai dar.... Mil beijos, Marisa Réquiem para o Funeral de um Poeta e seu Cavalo Branco Marisa Rodrigues I Pedra azul. Ajoelho-me diante de ti e te sinto fria. A noite pega-me pelos cabelos e arrasta-me até o centro da Terra. De ti quero somente esse beijo com o gosto gelado da morte, o andar trôpego de bêbado a embarafustar-se por latas de lixos e pesadelos alheios. Noite cega. Ponte de nós. Que nada

Poema selecionado em curso vai para Antologia Caminhos da Paixão

"MARISA SEVILHA RODRIGUES, nasceu no dia 18/01/1961, na cidade de Marília (SP). Formada em Letras, pela Unesp (Campus de Assis, SP) e, em Jornalismo, pela Fundação Cásper Líbero. Publicou aos 20 e poucos anos, dois livros: Anjo Descalço e Maestro de Sonhos. Decidida pela carreira jornalística em 1988, julgou que a poesia não seria uma boa companheira de ofício para descrever a realidade, nua e cruel, preconizada pelos "santos pagãos" da Comunicação. Assim, renegou os filhos queridos por mais de 20 anos, mas não conseguiu parar de dar vazão a sua alma de poeta, e continuou escrevendo seus poemas, escondidos de tudo e de todos. Há dez anos, à frente de sua própria empresa de Comunicação Empresarial, decidiu encarnar a poeta que lhe habita, dando-lhe passagem pela porta principal da casa: o coração. e, foi com ele que descobriu que já tinha poemas suficientes para as Quatro Estações do amor, livro selecionado para esta antologia". AS QUATRO ESTAÇÕES DO AMOR (Par

The Blue Woman

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The Blue Woman Todos os dias levanta-se bem cedo a mulher azul. Seus braços longos são janelas oceânicas que ela escancara sobre a imensidão do mar. Do seu púbis róseo ela retira um ramalhete delicados copos de leite e, ao gesto eflúvio, de trancafiá-los no vaso sobre a mesa, as flores pássaros alçam vôo janela afora. A mulher azul veste-se com longas e leves transparências de nuvens, enquanto aguarda, lânguida, as carícias do sol sobre seu corpo blue. A mulher azul refresca-se nas cachoeiras da lua, tendo como dama de companhia a eterna noite negra que lhe serve, em pequenas doses, doces cálices de fel. O tempo, fiel cavalheiro da mulher azul, senta-se ao seu lado e começa a retirar os dez anéis que ela trás consigo, atados, desde o seu fatídico nascimento. Um a um, são desatarraxados, os cruéis talismãs. Enfim, livre,voa a mulher azul.

Recuerdos de Santiago

Recuerdos de Santiago Pesada pedra azul. L apislázuli.B lues eyes. O  nectar dos meus seios escorre da tua boca -- semi aberta --farto mel, pesado fardo de trigo carregado nas costas das lhamas, que correm noite adentro, pelo deserto do Atacama. Passado e presente confundem-se no poente dos Andes. Com os dedos dos pés, amasso uvas, para fazer o vinho tinto de tua preferência, mas também desenho uma casa com chaminé e lareira, nessas areias setentrionais, à imagem de La Chascona. Às tardes, de frente para o imenso sol amarelo, de cócoras, como minhas "avuelas", teço cestos com os mesmos trigos usados para amassar o pão. E, todas as noites, costumo colher uma única tulipa negra que nasce na beira dessas encostas glaciais. Me vejo no espelho dos teus olhos azuis , blues eyes, so blues, e, com o mesmo cinzel em brasas, com que te esculpo na pesada pedra azul também retiro o teu escalpo. Perdoe-me cara pálida,mas preciso de tua pele quente e macia para cobrir-me do frio, na

As Quatro Estações do Amor

I Um era o selo. O outro, a carta. Um endereço, de correspondência certa, os unia. Um era o trem. O outro, os trilhos. Um era o pão. O outro, a faca. II Fazíamos pic-nic na cama todas as manhãs com a cumplicidade do chinelo às panelas. Com um bolero de Ravel, tudo era riso e festa, entre biscoitos e cobertas. Agora, se te pego rindo, você pede desculpas e diz que não foi nada. III Hoje, fico à espera de um outro homem, vindo não se sabe de onde. De outra galáxia, talvez. Numa espaçonave azul-esférica. De uniforme branco,resplandescente. Um homem sem emoções, que me mate de prazer e dor, sem me amar. Porque ser feliz é muito chato! IV No vaso, as flores estão secas. O batom escorre pelos cantos dos lábios, também secos. No espelho, o poema não resistiu a tanta saudade. Não sobrou nada. Nem um fio de barba, na pia do banheiro, nem uma navalha na carne. A casa já não rescende mais ao cheiro de Omno e incenso.Está morta. Irremediavelmente, morta! V Eu te esperava à estação, c