Poema selecionado em curso vai para Antologia Caminhos da Paixão



"MARISA SEVILHA RODRIGUES, nasceu no dia 18/01/1961, na cidade de Marília (SP). Formada em Letras, pela Unesp (Campus de Assis, SP) e, em Jornalismo, pela Fundação Cásper Líbero. Publicou aos 20 e poucos anos, dois livros: Anjo Descalço e Maestro de Sonhos. Decidida pela carreira jornalística em 1988, julgou que a poesia não seria uma boa companheira de ofício para descrever a realidade, nua e cruel, preconizada pelos "santos pagãos" da Comunicação. Assim, renegou os filhos queridos por mais de 20 anos, mas não conseguiu parar de dar vazão a sua alma de poeta, e continuou escrevendo seus poemas, escondidos de tudo e de todos. Há dez anos, à frente de sua própria empresa de Comunicação Empresarial, decidiu encarnar a poeta que lhe habita, dando-lhe passagem pela porta principal da casa: o coração. e, foi com ele que descobriu que já tinha poemas suficientes para as Quatro Estações do amor, livro selecionado para esta antologia".

AS QUATRO ESTAÇÕES
DO AMOR
(Para Wagner Amodeo, alma gêmea desta vida!!!)

I
Um era o selo,
o outro, a carta.
Um ar cúmplice
de correspondência certa
os unia.
Um era o trem,
o outro, os trilhos.
Um era o pão,
o outro, a faca.
II

Fazíamos pic-nic na cama
todas as manhãs
com a cumplicidade
do chinelo às panelas.
Num bolero de Ravel
tudo era riso e festa,
entre biscoitos e cobertas.

Agora,
se te pego rindo,
você me pede desculpas
e diz que não foi nada.
III

Hoje, fico à espera
de um outro homem,
vindo não se sabe de onde.
De outra galáxia, talvez.
Numa espaçonave azul-esférica.
De uniforme branco, resplandescente.

Um homem sem emoções,
que me mate de prazer e dor,
sem me amar.
Porque ser feliz é muito chato!
IV

No vaso as flores estão secas.
O batom escorre pelos cantos
dos lábios, também secos.
No espelho, o poema não resistiu
a tanta saudade. Não sobrou nada.
Nem um fio de barba
na pia do banheiro,
nem uma navalha na carne.
A casa já não rescende mais
ao cheiro de Omno e incenso.
Está morta. Irremediavelmente,morta!
V

Eu te esperava à estação
com um chapéu de ponta
e um cravo na lapela.
Você se fez de tonta,
foi vadia e vândala,
burra, talvez!

Agora, a chave faz greve na porta
e um drink interminável
segura o relógio pelos cabelos.
A vodka não é mais a mesma
nem os bilhetes, tampouco.
VI

Paixão de março
proscrita depois das águas.
Nem os versos suportaram
tamanho homicídio de amor.
Foram-se os poemas
em folhas de papel de pão
rasgadas
todas as manhãs.
VII

Me lembro daquele anel
de serpente
no dedo indicador.
Apontava-me as quatro direções.
Como uma bússola maluca
punha-se a girar:
norte, sul, leste, oeste.

I Ching estava coberto de razão.
Não daria certo nunca, meu amor!
VIII

Fizemos um pacto
na última sexta-feira da paixão.
À mesa posta,
esperavam,
os doze anos,
vividos juntos.
Um a um chegaram.
Foram se sentando.
De repente, das mãos tortas
penderam-se os cálices:
ouvimos o estilhaço das vidraças
antes do vinho geral.
Mortos. Irremediavelmente, mortos.
Antes do sábado de aleluia.
IX

Emigrar para o sul.
"Eis a solução", pensei.
Entre hortênsias ladeando o caminho,
uma xícara de chocolate de manhã,
um beijo e um bilhete doce,
uma rosa no travesseiro.
Estaria a salvo o nosso amor.
X

Eu era o chicote
e você não sabia. Não podia saber.
Esporas queimavam-me as entranhas.
Um rubor feria lábios e faces.
Não podia saber.
Gramado é lindo,
mas é apenas um cartão postal!
XI

Cavalos doidos em disparada
derrubaram o padre
na hora da Santa Ceia.
Acabou-se a missa crioula.
Os gaúchos tomavam chimarrão na praia.
Às três da tarde. Fervendo.
Ciscos de chá preto no céu.
Urubús em círculo.
Vontade de trepar com o mundo.
E a Kodak registrando tudo.
Um clique. E o seu sorriso jazz
numa fotografia.
XII

Eis o que nos resta.
Apenas uma máquina fotográfica,


e um álbum de família.
Não terei mais o bebê-gigante
de cócoras, sobre a terra.
Um parto intergaláctico me aguarda
na próxima estação das águas.


(*)
Meus amigos, sinto-me, novamente, como se tivesse 20 anos. Ou menos...tamanha a alegria e emoção ao receber, agora, fresquinho, direto do correio, um envelope contendo as páginas diagramadas do meu poema As Quatro Estações Amor, que foi classificado, em um concurso, para fazer parte da Antologia Poética, a ser publicada pela editora Litteris, "Pelos Caminhos da Paixão. O poema, que transcrevo para voces, abaixo, foi escrito há muito, muito tempo, mas a sensação que sinto é como se tivesse acabado de escrevê-lo. A emoção, ao repartí-lo com outras pessoas, o torna muito maior, do que de fato o é. Vejam, também, o que os editores escreveram sobre a obra e essa minha decisão de voltar a publicar os versos, já de cabelinhos brancos...rs!!!
Um grande beijo para todos vcs!!!
(**)
"MARISA SEVILHA RODRIGUES, nasceu no dia 18/01/1961, na cidade de Marília (SP). Formada em Letras, pela Unesp (Campus de Assis, SP) e, em Jornalismo, pela Fundação Cásper Líbero. Publicou aos 20 e poucos anos, dois livros: Anjo Descalço e Maestro de Sonhos. Decidida pela carreira jornalística em 1986, julgou que a poesia não seria uma boa companheira de ofício para descrever a realidade, nua e cruel, preconizada pelos "santos pagãos" da Comunicação. Assim, renegou os filhos queridos por mais de 20 anos, mas não conseguiu parar de dar vazão a sua alma de poeta, e continuou escrevendo seus poemas, escondidos de tudo e de todos. Há quinze anos, à frente de sua própria empresa de Comunicação Empresarial, decidiu encarnar a poeta que lhe habita, dando-lhe passagem pela porta principal da casa: o coração. e, foi com ele que descobriu que já tinha poemas suficientes para este novo livro, Seis da Tarde, os homens viram sombras!!!"
 




 

Comentários

Anônimo disse…
Marisa, you are a really poetry. One of the best that I am having the pleasure to knowing, word by word. My contratulations for your new book. Santiago Durraich
Anônimo disse…
Oi Marisa,
Gostei muitíssimo de seu texto!

Parabéns pelo trabalho,

J.

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