A Chave do Amor

Trago a chave do baú
pendurada ao pescoço.
Várias vezes ao dia, costumo visitá-lo,
às escondidas de mim.
Me olho no espelho.
Experimento um colar, sobre o meu colo nú.
Visto um vestido antigo
e danço sozinha uma melodia que só eu ouço.
Só eu consigo fechar os olhos e sentir os acordes,
de cada instrumento.
A música é fria como lâmina
e corta o meu coração em duas metades.
Metade eu. Metade você.
Danço. Danço. Danço.
Mas não te encontro mais
neste imenso salão de baile,
onde as luzes estão apagadas
e as bailarinas esqueceram as sapatilhas.
De súbito, a música cessa.
Eu me dispo do vestido e do colar
e os trancafio no baú, novamente.
Mas continuo com a chave pendurada junto ao meu peito.
Durmo e sonho que à noite,
você virá buscar-me
e precisará desta chave,
pra abrir todas as portas de nossos destinos:
_ enfim, e para sempre, juntos.

(poema dedicado às personagens do livro O Livreiro de Cabul: Shakila, Bibi Gul, Sonya, Bulbula,Sharifa e todas as mulheres do Afeganistão).

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