Flores do Mal


                                                       (Para Charles Baudelaire e Glauber Rocha)

os dramas  se constroem na surdina
em dobraduras de papel,
nas entrelinhas
entre um gole de café 
e um olhar tácito
decifrador de enigmas
raios  tempestades  hieróglifos
palavras incrustadas com o signo do mal
há milênios,
no coração dos homens

os dramas se constroem
com pitadas de sarcasmo e sal,
 entre a mulher que varre o quintal,
e a velha desdentada, 
que cultiva primaveras
do outro lado do muro

na cama, o moribundo espera
por uma das duas,
prá lhe trocar as fraldas.
as flores são testemunhas mudas,
da tragédia cotidiana,
e espalham seu perfume
-- indiferentes--
 ao dragão da maldade


os dramas se constroem
com  argamassa da sordidez humana,
com restos de cachaça e cigarro,
algum pigarro,
e, às vezes, azeite e mel
prá disfarçar o gosto de veneno,
--  o arroto --
o peido icônico do velho,
depois de morto


São Paulo, 30 de maio de 2014. 

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