Inquilina do Amor
Ajoelho-me as tuas margens.
Arrasto-me. Arrasada, ergo os olhos para tuas encostas.
Tuas intangíveis escarpas.
Como alcançar-te no ponto exato, onde te perdi?
Muralhas.Mulheres. Outras mãos deslizando sobre tua pele.
Escalpo. Florete. Mandarim.
Um olho cego desnorteia-me nessa procura obscura.
Perdi o mapa do teu peito.
Florestas. Tramas. Ramas.
Tento decodificar os arabescos indecifráveis.
Teus rastros deixados em minhas paredes uterinas.
Hieróglifos. Caracteres de uma escritura sagrada.
Eu tinha a bíblia do teu amor, aberta, sobre a minha penteadeira,
Mas não a li.
Escovas. Cabelos. Arlequins.
Experimento novas e antigas máscaras.
Vejo-me no espelho e não reencontro mais o meu rosto.
Mestre. Mastro. Maestro.
Tua deixaste de reger a orquestra de sinos de ventos,
que cantarolavam em mim.
Nas insones noites, feitas de longas despedidas
e ausências.
Abandonaste a casa que te serviu de abrigo, na escuridão dos meus dias mais pérfidos.
Ao fechar as portas, com ferrolhos e chaves inquebrantáveis,
Aprisionastes para sempre, essa desesperada inquilina do amor.
Comentários