Inquilina do Amor


Ajoelho-me as tuas margens.

Arrasto-me. Arrasada, ergo os olhos para tuas encostas.

Tuas intangíveis escarpas.

Como alcançar-te no ponto exato, onde te perdi?

Muralhas.Mulheres. Outras mãos deslizando sobre tua pele.

Escalpo. Florete. Mandarim.

Um olho cego desnorteia-me nessa procura obscura.

Perdi o mapa do teu peito.

Florestas. Tramas. Ramas.

Tento decodificar os arabescos indecifráveis.

Teus rastros deixados em minhas paredes uterinas.

Hieróglifos. Caracteres de uma escritura sagrada.

Eu tinha a bíblia do teu amor, aberta, sobre a minha penteadeira,

Mas não a li.

Escovas. Cabelos. Arlequins.

Experimento novas e antigas máscaras.

Vejo-me no espelho e não reencontro mais o meu rosto.

Mestre. Mastro. Maestro.

Tua deixaste de reger a orquestra de sinos de ventos,

que cantarolavam em mim.

Nas insones noites, feitas de longas despedidas

e ausências.

Abandonaste a casa que te serviu de abrigo, na escuridão dos meus dias mais pérfidos.

Ao fechar as portas, com ferrolhos e chaves inquebrantáveis,

Aprisionastes para sempre, essa desesperada inquilina do amor.


Comentários

Anônimo disse…
I just finished reading this beautiful poem that left a strong emotion in me. Great strength in the invocation of the "dark side" of love, when we are left behind still loving but with the bitter taste of the departed loved one. This is a mature poem that reflects the deeper side of the the poet who wrote it. The longing for now defunct love and the love one are expressed with great strength and sensivity. This is great poetry!
Argênide disse…
Marisa, os seus poemas me inspiram principalmente porque neles encontro coragem e sinceridade raros. Já me fez chorar diversas vezes, uma vez até lhe escrevi (quando li “Com minha mãe aprendi a religião dos jardins.”), isso porque eles tem esse lado que aprecio muito na Emily Dickinson (tema de nossa conversa recente) quanto a conhecer a alma humana. Só assim um poeta ou artista nos toca profundamente. Estou numa fase do meu trabalho artístico na qual me encontro mergulhada em sentimentos e lembranças. Seus poemas tem sido muito preciosos, pode ter certeza. Muitos beijos!!!!
Nossa, Argênide, ter os meus poemas comparados a Emily Dickison é qualquer coisa de sublime, inimaginável, para esta pobre poetinha aqui. Assim, sou eu que choro e me ajoelho aos teus pés, de tanta gratidão.
Philippe: you are wellcome, here. I sam very emottioned with your presence. Thank you, my dear friend, forever.

Postagens mais visitadas deste blog

O canto da carroça

Nésperas do esquecimento

Valsa com a morte