Casa de abelhas




Florzinha de macela se enrosca na palavra frágil
de arame.
Ao fundo, as montanhas soberbas
em sua perenidade.
Flores e pedras se compõem
nos mistérios do outono. Tecem os cabelos da memória.
Evocam lembranças dos homens que tocavam rabeca
embaixo das janelas mineiras.
"Minas não há mais", diria Drummond.
Tem razão o poeta. Só restaram pedras e homens.
Escravos.
Escravas.
Libertas quae sera tamem, agora é só uma frase,
bordada em panos que já tremularam
no alto dos mastros e dos corações valentes.
Do chalé recortado no topo do morro,
restou a brancura solitária na paisagem fria.
Agora, silencioso e tácito, é abrigo de abelhas africanas.
O cachorro aspira o cheiro adocicado no ar.
Enfia o fucinho debaixo da porta.
Sente o zum-zum-zum dos ferrões libidinosos.
Fora, os galhos ensandecidos da primavera
constroem um aramado de flores sobre o telhado.
Eu crio coragem e entro na casa.
Abro suas cortinas de teias de aranha.
Piso num tapete de favos.
Afundo meus pés numa pasta de cera.
Um enxame de abelhas me envolve.
Nuvem negra de mel,
derreto-me.

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