Recuerdos de Santiago











                                       Pesada pedra azul
lapislázuli/
blues eyes:


o nectar dos meus seios escorre da tua boca
                               [semi aberta]
farto mel, pesado fardo de trigo nas costas das lhamas, 
que correm noite adentro pelo deserto do Atacama.


Passado e presente confundem-se no poente dos Andes.


Com os dedos dos pés, amasso uvas, 
para fazer o vinho de sua preferência,
mas também desenho uma casa com chaminé e lareira,
nessas areias setentrionais.


Às tardes, de frente para o imenso sol amarelo,
de cócoras, como minhas "avuelas",
teço cestos com os mesmos trigos, 
usados para amassar o pão.
E, todas as noites,costumo colher uma única tulipa 
                 [negra]
que nasce na beira dessas encostas glaciais.


Me vejo no espelho dos teus olhos azuis:
blues eyes, so blues.


E,  com o mesmo cinzel em brasas,
com que te esculpo na pesada pedra azul,
também retiro o teu escalpo.


Perdoe-me cara pálida,
mas preciso de tua pele quente e macia 
para cobrir-me do frio,
nas longas noites negras em que fico só,
regadas ao sabor da última gota de vinho, 
cujo som ainda ressoa, 
no fundo de minha garganta. 


Aspiro ao aroma acridoce das tulipas negras 
nascidas nas encostas dos Andes:
_oferendas únicas para uma única noite de amor...


Poema: Marisa Sevilha Rodrigues
Imagem: William Whitaker






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