Epifania




EPIFANIA
Contigo aprendi uma nova palavra poética:
geografia.
Dos mares, dos desertos, e até dos insetos. 
Eis que descubro que tudo se move e se abre
a minha passagem.
Do Mar Vermelho ao Mar Cáspio,
tudo é estrela e desolação.
Mesmo fechada em copas,
aturando a dor das sementes,
o meu corpo ensaia passos em mil direções.
Pisa em falso. Trapaceia.
O meu cérebro se esfacela
em miolos de pão.
As minhas emoções cascateiam lágrimas.
Quero viver a epifania da descoberta,
mas os ventos lunares enchem minha boca de areia
arrancam a cauda dos dragões chineses,
viram yin e yang até que bordem a palavra harmonia em seus uniformes;
despetalam o leque das gueixas
que fazem greve de sexo na antessala do prazer.
Tempos de mistérios gozosos. Arranha-céus de poeira.
Clichês de amor tatuados em frases debilóides pelo corpo.
Acupuntura, moxabustão, florais de bach,
cada cuidado com o meu corpo
vem das religiões do Oriente,
agora, de joelhos para o Ocidente.
Os homens com olhos de traços têm a sabedoria dos deuses,
mas querem tomar café em canecas by Starbucks.
Geografia não é uma ciência prá desenhar mapas
nas costas do mundo. É uma arte prá decifrar trilhas de insetos.
Descobrir formigas minúsculas brincando de escorregador
nas bordas do açucareiro.
Poema: Marisa Sevilha
Imagem: Dino Valls

São Paulo, 21 de Setembro de 2014.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O canto da carroça

Nésperas do esquecimento

Valsa com a morte