Valsa com a morte



                                                      (Poema in memoriam do poeta Manoel de Barros e de Carlos Carlos Prudente Correa, ambos falecidos no dia 12 de novembro de 2014).


A morte convida-me para dançar uma valsa
nesta quinta-feira sombria e triste.

Rabisco alguns versos in memoriam
do homem que subiu aos céus,
hoje, vestido de azul, pendurado na cauda dos pássaros.
No centro da sala as violetas me olham, desconfiadas,
das minhas intenções.

Conto-lhes que acordei com a visita da morte.
Ela visitou-me tres vezes antes do galo cantar,
na madrugada de cabelos encrespados pelo vento.
Ela riscou a minha janela com o sinete do enforcado:

e quando acordei eu soube que
ela levara para sempre
o homem frágil, o homem carente de abraços,
o homem simples que se vestia de nuvens
e se cobria com o  sorrisos dos netos.

Acordamos todos mais orfãos nesta quinta-feira sombria.

O homem que falava com torrões de açucar na boca,
encantou-se por uma sereia à beira  mar,
e desde então nunca mais foi visto.

Pescadores contaram que as areias faíscavam na manhã seguinte,
e que todos dançaram, felizes, sobre arco-íris de escamas coloridas.

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