O gigante acordou




                                                 (Para Flavio Ferrari, Kito Correa, José Ruy Gandra e Armando Syllos)




Catarse.
Um país expele o polvo que trazia, engolfado
em seu ventre.
A renda do vômito alcança tudo e todos.
Atônitos, os zumbis andam dias e noites,
incansáveis, gritam palavras de ordem
e progresso.
Outros, pedem a volta da Varig.
Como hebreus em busca da Terra Prometida
vagueiam, ao léo, sem rumo certo,
e no caminho:
- ateiam fogo nos monumentos históricos;
-asteiam bandeiras de todas as cores.

Us querem passe-livre
para ir e vir, sem saber de onde, nem para onde, ou para quê.
Mas querem ser livres esses homens de boa vontade,
querem dizer adeus à indiferença e mordaças de seus governos.
Querem ter filhos negros, de olhos azuis e meio japoneses.
Com seus maridos e maridas, sem a interferência do Estado ou a língua solta de qualquer vizinho desavisado.

Ah, esses homens sonhadores,
que comem os restos do diabo
no prato da esquizofrenia alheia.

Anões com alma de gigantes
que não perdem a mania de grandeza:
esses seres tão desprezados em suas pobrezas.
Ousam serem felizes.
Ousam serem ouvidos
e gritam a plenos pulmões seus desejos, suas paixões,
suas vontades férreas de serem lembrados
em todos os outros 29 dias, de todos os meses do ano,
e não apenas no dia em que quitam os carnês de seus impostos.

Catarse.
A flor do vômito irrompeu, sonoro,
e jorrou seu frêmito de salmoura e dor
sobre todas as cabeça:
-deslumbradas;
-desloucadas;
-desbocadas


Um país inteiro se vestiu de verde e saiu às ruas, feliz, só pra mastigar esmeraldas:
a cor da esperança.

Marisa Sevilha Rodrigues
Foto: Marisa Rodrigues


Avenida Paulista, 29 de junho de 2013.

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