Poema para um minotauro azul









As taças tilintando sobre a mesa.
As mãos que se cruzam e se tocam.
Quase uma prece.
Das taças vermelhas escorrem gotas
do borbulhante champagne.
Olhos. Bocas. Decotes.Fendas.
Tudo é penetrável e impenetrante.
Saliências e reentrâncias.
O tronco da figueira,  desenrola-se para o céu,
e faz-se de teto para os amantes em fuga.
O gozo é azul
e a fruta do amor é do tamanho de um elefante
preso pelo rabo, no elevador.
As taças se encontram às escondidas
no reflexo do espelho. Miram-se. Tocam-se.
E se derretem em gotículas de prazer.
O silêncio das bocas traduz o desejo das línguas.
Bocas entreabertas degustam o sabor do não dizer...só sentir...
o desejo imenso de escorregar dedos
pelos tecidos molengos, sedosos,
tão safadamente sedutores
de sua longa e malemolente saia vermelha.
Picasso e o seu minotauro dançam um flamenco manco
nas varandas espanholas de uma tela à meia luz.
Seu sorriso é tão doce e cruel que não terei forças
para ir-me embora desse reino fantástico
que rouba me as palavras e a razão,
e deixa-me, assim, tão completamente só,
desesperado,
- ávido --
de amor.


Comentários

Anônimo disse…
I remember this poem which is from your "blue period" like Picasso. A little bit surrealist but so good in describing the slow and sensual dance of two lovers. This is one of best poems. Philippe
Philipe, this is only the first part of this poem. I ll publish the another ones, and send them you. a lot of kisses.
Unknown disse…
Marisa, este poema, em particular, me encantou. Adorei. Sou fã dos seus poemas que são sempre verdadeiros, profundos, porque foram paridos por uma alma sensível. O prato de cerejas é muito generoso com seus leitores. bj
Que pena que vc não se identificou. Adorei seu comment. Na verdade, fiquei comovida. eu é que te agradeço pelo carinho Seja sempre benvindo ao prato de cerejas.

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