Poema para um minotauro azul
As taças tilintando sobre a mesa.
As mãos que se cruzam e se tocam.
Quase uma prece.
Das taças vermelhas escorrem gotas
do borbulhante champagne.
Olhos. Bocas. Decotes.Fendas.
Tudo é penetrável e impenetrante.
Saliências e reentrâncias.
O tronco da figueira, desenrola-se para o céu,
e faz-se de teto para os amantes em fuga.
O gozo é azul
e a fruta do amor é do tamanho de um elefante
preso pelo rabo, no elevador.
As taças se encontram às escondidas
no reflexo do espelho. Miram-se. Tocam-se.
E se derretem em gotículas de prazer.
O silêncio das bocas traduz o desejo das línguas.
Bocas entreabertas degustam o sabor do não dizer...só sentir...
o desejo imenso de escorregar dedos
pelos tecidos molengos, sedosos,
tão safadamente sedutores
de sua longa e malemolente saia vermelha.
Picasso e o seu minotauro dançam um flamenco manco
nas varandas espanholas de uma tela à meia luz.
Seu sorriso é tão doce e cruel que não terei forças
para ir-me embora desse reino fantástico
que rouba me as palavras e a razão,
e deixa-me, assim, tão completamente só,
desesperado,
- ávido --
de amor.
Comentários