...porquê é tão difícil termos uma atitude amorosa, de olhar o outro nos olhos, sem medo, sem desconfianças, e não temos a coragem de nos dizer: errei, erramos...vamos nos dar uma segunda, terceira, quarta, centenas, milhares de chances se forem possíveis, porquê o amor vale a pena, o amor é a única coisa que vale a pena na nossa vida tão pequena e mesquinha...que nos adianta levantar cedo, trabalhar até cairmos mortos, e não ter com quem dividir o lado da cama, aquele lado que sempre fica vazio, que é guardado com todo o respeito, como se esperássemos a volta do morto, daquele se foi, que se pariu na escuridão dos dias e das noites, que se perdeu de nós e de si mesmo; é tão triste olhar para o lado e descobrir que estamos tão sós, nesta cidade virulenta, violenta, petrificada, sem ter alguém para beijar nos lábios, bem de leve, e dizermos:"boa noite, amor, boa noite"
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Nésperas do esquecimento
Para Patricia Claudine Hoffmann e Cy Claudel À espera de algum milagre, descasco as nêsperas no prato, descanso a faca e me delicio com a polpa que ainda trás um aroma de quando foi flor. No limiar da escada, tropeço em ossos alquebrados dos que pararam no caminho. Destravo portas e janelas, para respirar a noite. Tenho relíquias intangíveis no peito. Um terço centenário que foi do meu pai, ficou anos pendurado sobre a imagem do Sagrado Coração, pendurado na parede do quarto, até que alguém o surrupiou. Levou a peça, mas não a lembrança. Tem gente que acha que pode assaltar corações, caixas de memórias, cofres de emoções. Não pode. À sombra da árvore do esquecimento, fiz um jardim de lembranças de todas as cores para capinar todas as manhãs. Me alimento com o perfume dos que me habitam, em tempos de cólera, ou não. As janelas abertas para o pomar, agora que estou morta, já não
Valsa com a morte
(Poema in memoriam do poeta Manoel de Barros e de Carlos Carlos Prudente Correa, ambos falecidos no dia 12 de novembro de 2014). A morte convida-me para dançar uma valsa nesta quinta-feira sombria e triste. Rabisco alguns versos in memoriam do homem que subiu aos céus, hoje, vestido de azul, pendurado na cauda dos pássaros. No centro da sala as violetas me olham, desconfiadas, das minhas intenções. Conto-lhes que acordei com a visita da morte. Ela visitou-me tres vezes antes do galo cantar, na madrugada de cabelos encrespados pelo vento. Ela riscou a minha janela com o sinete do enforcado: e quando acordei eu soube que ela levara para sempre o homem frágil, o homem carente de abraços, o homem simples que se vestia de nuvens e se cobria com o sorrisos dos netos. Acordamos todos mais orfãos nesta quinta-feira sombria. O homem que falava com torrões de açucar na boca, encantou-se por uma sereia à beira mar
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