Por um punhado de serpentina






Por um punhado de serpentina

Contemplo no espelho de tuas retinas
meus últimos dias de juventude
e decido que não deixarei que os nós escabrosos
da velhice
desabrochem em cada articulação do meu corpo,
que ranjam a cada passo de dança que eu ainda queira dar
em busca de algum sorriso no meu rosto,
ainda que desenhado para uma noite de carnaval,
 talvez em Veneza.

Mascarada, 
quero beijar todos os lábios do mundo
que ousarem abrir-se em minha direção.
Não hesitarei em copular até com as abelhas,
se houver uma crise de mel para abastecer as cidades
e com os corações partidos, loucos e despedaçados
por um punhado de amor.

Venha, tire essa fantasia rota, mal-cheirosa, de carnavais
antigos, onde as colombinas  e pierrôs se perderam pelas ruas
e avenidas da solidão,
depois de cada baile da vida.

Venha sambar comigo, no cordão dos desgraçados,
pois que de tragédia é feita a nossa vida.
Por isso, eu me visto de comédia.



São Paulo, fevereiro de 2015. 




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O canto da carroça

Nésperas do esquecimento

Valsa com a morte