Pimenta Rosa





Há vendilhões do templo na minha genealogia;
 por isso arranquei raízes de aroeira
em busca do  seu poético fruto: a doce pimenta rosa
e, com ela, atazanei o seu peixe
cozendo-o em folhas de bananeira
enquanto você dormia em outra redes,
que não a minha;
entre aborígenes & gringos & extraterrestres
caminhei quarenta anos pelo deserto, em busca
do meu pecado original:
encontrei lagartos & formigas desterrados;
anões &  feiticeiras & padres & comendadores
e toda horda de seres vivos,  vitimados pela tragédia
vinda de cima, debaixo e de todos os lados;
de seus lugares-casas  no mundo;
enfiei zilhões de cravos numa maçã
e deixei-a pendurada no guardarroupa
da nossa casa imaginária;
aguardei que o feitiço virasse contra o feiticeiro,
mas você não voltou ao lugar do crime,
sequer olhou prá trás, na sua trilha solitária.
Os meus caminhos traçados com açúcar
foram lambidos por outras fêmeas,
 sedentas de afeto.
Agora, acendo um fogão à lenha
e cozinho o meu amor improcrastinável por você

em fogo-brando e banho-maria. 

Ilustra: Dino Valls

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