Medusa Abandonada
Meus cabelos enovelados de Medusa
cresceram em todas as primaveras
cresceram em todas as primaveras
em que não me habitastes
com seu perfume de amaranthus.
Os pássaros que se aninhavam em meus galhos,
perderam suas moradas
e se desnortearam, sem destino,
e se desnortearam, sem destino,
sem leste ou oeste.
Eu te esperei à barranca do rio,
tecendo tapetes para enfeitar tua nova morada,
cerzindo tuas roupas,
limpando peixes,
limpando peixes,
cultivando um jardim
(imaginário)
(imaginário)
de margaridas.
Todos os dias te vislumbrei,
vestido de vermelho, amarelo e rosa,
chegando em cada por-do-sol
que contemplei de minha janela,
com olhos rasos de lágrimas.
Via sua barca solitária,
apodrecendo, docemente,
apodrecendo, docemente,
sem nenhum lamento,
desde sua última partida,
desde sua última partida,
às margens do rio caudaloso.
Não viestes.
Mais uma vez, quebrastes tua promessa
de visitar-me na chegada da primavera.
à minha porta, todas as madrugadas.
Dos meus seios escorrem o leite farto
que não irá alimentá-lo,
enquanto não atravessarmos o umbral
que separa o ódio do amor.
Panorama, São Paulo.
Setembro, 2013.
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