Sob o signo do fogo




Um vento estranho, com cheiro de fumaça, adentra as janelas
nesta manhã de setembro. Ainda estamos no inverno.
Mas o calor resseca nossas mãos. Enruga nossas caras.





Um inverno que brinca de esconde-esconde com as estações do ano


E teima em trocar de roupa com o verão.
Crimes são cometidos em nome da estiagem das águas.

Ateiam fogo às casas, como se fossem de papel.
Nunca mais será o mesmo, o sorriso das crianças sem lar.
- nunca mais - 

Os rostos amargos das mulheres, estampados nos jornais
são a cara escarrada dos nossos tempos loucos. 
Nossos pulmões expelem um gosto de fuligem.
Cuspimos a fumaça das casas dos homens pobres


- queimadas- 



pelos homens ricos e despudorados.

A primavera, balança o futuro do outono em seus braços,


mas estende às sombras das àrvores,
um tapete ressequido de flores mortas.

A terra abre-se em fendas.
Lábios rochosos escancarados
soluçam por uma gota dágua.

No desorientado das coisas, sinto falta de ar.
Sufoco. Não respiro.
Agora, o vento de setembro tem cheiro de queimadas.





Pela tevê, vi um tornado de fogo varrendo a Austrália.

Me visto de primavera, mas é inverno:


- no amâgo das pedras, e no meu coração.

Comentários

Anônimo disse…
Hi Marisa!

On a cool and sunny Fall day here in the U.S. I received your poem and I could almost smell and feel strange wind full of smoke blowing from Sao Paulo. What a great poem full of smell and colors as usual with your poetry. I just loved it and had to tell you.

um beijo.

Philippe

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