Agora, é sempre assim

Imagem: Annabelle Verhoye

Agora, é sempre assim:
acordo com a luz do outono arranhando as janelas.
Abro os olhos e vejo a sombra da dor,
se escondendo atrás da porta,
no canto esquerdo do espelho,
debaixo do tapete.

Tento erguer-me da cama,
mas não tenho forças
para mais um dia, sem alegria.
Os joelhos fraquejam, calcinados
com a memória das estradas.
Longas.Sinuosas. Poeirentas. Traiçoeiras.

(Os sinos de vento soluçam lá fora)

Abro as janelas e deixo a luz da manhã
 ensolarar o meu quarto.
 Devassa, ela se deita com os meus lençois,
se abraça com os meus travesseiros.

Anos de solidão e desespero
talharam a armadura,
colada ao corpo.

A porta da prisão está aberta,
Mas a prisioneira encantou-se pelas muralhas.

Comentários

pedro mota disse…
Ao ler esse poema lembrei-me de "gritos e Sussurros", do Igmar Bergman. É um clima assim, invernal. rs. As mulheres presas no âmbito da casa que é também o âmbito de sua interioridade - por vezes de grandes e fortes paredes. Não deixa de ser um exemplo de leveza, que é elemento sempre presente em seus poemas, ao mesmo tempo que é também exemplo de força.
Parabéns por mais esse belo poema. Que me faz mais feliz por aqmar as mulheres.

Grande beijo.

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