Sobre cobras e precipícios



















Joana tinha medo, mesmo, era de raposa. 
Trancava o galinheiro, todos os dias, 
as seis da tarde. 
Pendurava o rastelo atrás do curral. 

Do abismo, não tinha medo. 


Terminada a lida do dia, 
levantava as saias, acima do joelho,
e sentava -se à soleira da porta.

Punha-se a contemplar o nada. 
A poeira. O Vazio. 

Com as cobras, não se importava, não. 
Essas já nascem criadas. 

Bom mesmo, seria ter nascido amiga do rei. 
Mas isso, só em Pasárgada. 



Ilustra: William Whitaker

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