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Mostrando postagens de 2011

Religião dos Jardins

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Lençóis branquinhos dançavam a cerimônia do adeus, nos varais infinitos, da minha infância. Anil era a cor do céu, so blue. Adeus pai. Adeus mãe.  Irmãos.Vizinhos. Adeus que eu vou embora, teria lhes dito,               [ corajosa ] não fossem as  lágrimas ocultas. No canto do olho, a trave. E a dúvida, entre partir ou ficar              [para sempre] instalada nas tramelas das janelas. O chão batido da cozinha. As açucenas brancas acenando nas manhãs insones. As coroas de cristo reverenciando  o sol do meio dia. E a santa Ave Maria abençoando, as seis horas, o copo dágua , ao lado do rádio:  “bebe, filha, bebe. A água do Senhor vai te fazer bem”. profetizava minha mãe. Mas o lago azul da minha infância, Já ficara opaco no retrovisor do meu carro. O futuro era um álibi prá fugir do presente. Um presente onde as tardes eram sempre azuis E eu podia contemplá-las de minhas janelas, Abrindo-as de par em par, para a imensidão do

Conversas íntimas

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...e se o tempo não fosse tão ardil, ficaríamos com nossas rugas, umas defronte as outras, a entabular conversas íntimas.

Olhos de gato

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andar felino dança sobre o muro lambe gotas das folhas a chuva passa fica apenas um olhar  (molhado) de gato.

Jabuticabas

hoje encontrei a poesia de cesta na mão pernas cruzadas num lance de escada chupando jabuticabas e jogando as cascas prá vida.

Um deus maldito

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Foge sonho fugáz desfaz a cor da face das figuras presas nos vitrais, penduradas nas paredes ocas, ensanguentadas. Um rastro de fantasma aqui e ali, um  cheiro de pólvora que não quer passar. Foge sonho fugáz,  encante a noite macabra, empunhe a cruz irônica o sorriso e o gesto sarcasticontundente. No olhar e na boca (o desejo e a ordem) cobram impostos. A esmola anônima nas mãos, um deus maldito no ventre na alma um micróbio ancestral. 

Nossas vidas se encontram...

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Nossas vidas se encontram às quintas-feiras. Olhos lavados se abraçam silenciosos. Nossas vidas se encontram num vão de escadas, se tocam nos degraus:   as lágrimas  escorrem...

Vinicius cantando amor

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                                                                      Para João Alfredo Ribeiro Vinícius cantando o amor, mas, lilás - é a cor da ausência. Te vejo em gotas azuis pingadas sofrega-esfregada-mente nos lábios dos castiçais. Tua luz mortiça atiça os vendavais e um ciclone abrupto explode no tempo que amputa algo de nós.

Prelúdio

Nesta casa há sombras, desejos recônditos, cheiro de incenso nas coisas, as mesmas, antes da  partida. Há versos no espelho: pairados nos lábios                                [semi-abertos]. Há música nos olhos, nas mãos,  cores no quarto, na cama à espera. Há sonhos no ar, sono nos gestos. Nesta casa habita o verde no fundo da mata, cachoeira irrequieta, marulhante, marinheira nave(ga) no espaço em ondas de calor, na cauda das estrelas, nas asas dos pássaros, em fachos de luzes. Essa casa germina: no mar          na terra                     no ar. Há uma bússola maluca e um farol apagado.

A Pedra de Drummond

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      No meio do caminho a pedra drummoniana continua atrapalhando rotinas, ofuscando retinas. É preciso: rolar a pedra.                 olhar a pedra                 sentar na pedra                 escorregar na pedra                 saltar a pedra. Mil demônios levem Drummond                 e sua pedra                 (nossa)                 de cada dia!!!

Poemas Haikai - Tomas Transtörmer , Nobel de Literatura 2011

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 Tomas Transförmer, ganhador do Nobel de Literatura 2011e seu único poema traduzido em português... Os fios elétricos estendidos por onde o frio reina Ao norte de toda música. O sol branco treina correndo solitário para a montanha azul da morte. Temos que viver com a relva pequena e o riso dos porões Agora o sol se deita. sombras se levantam gigantescas. Logo logo tudo é sombra. As orquídeas. Petroleiros passam deslizando. É lua cheia. Fortalezas medievais, cidades desconhecidas, esfinges frias, arenas vazias. As folhas cochicham: Um javali está tocando órgão. E os sinos batem. e a noite se desloca de leste para oeste na velocidade da lua. Duas libélulas agarradas uma na outra passam e se vão Presença de Deus. No túnel do canto do pássaro uma porta fechada se abre. Carvalhos e a lua. Luz e imagem de estrelas salientes. O mar gelado. Poemas haikai Tomas Transtörmer (Tradução de Marta Manhães de Andrade)

Verde borboleta verde

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Como provar seu doce favo sem deixar escorrer, pelo seu púbis róseo, o gosto antagônico da morte? Passagem, paisagem, miragem. O elefante amarelo   movimenta suas gordas patas no profundo oceano. A montanha desprende-se da serra e sai flanando pelos ares. Folha de papel. O gozo é imenso e não cabe numa xícara de café preto. Pão de mel. Teus lábios entreabertos sugerem o néctar das orquídeas. Minúsculas miniaturas espalhadas pela mata. Escravos cavaram um escuro túnel entre as pedras mineiras. Ouço os gritos dos desesperados. Louco açoite xicoteia   a noite prata. Pernas abertas para a minha passagem. Sou rei dessas   terras de Araxá e imprimo minhas digitais na tua pele branca: nos bicos dos teus seios, no dorso das tuas mãos. Mãos em cálice. Mãos que amparam flores e insetos. Verdes mares montanhas bois. Paisagem pedras miragens verdes. A lua crescendo no céu da tua boca. Língua esculpindo palavras de fogo. Fogos de artifício explodem na garganta do mal. O riso é profétic

Chinelos esquecidos

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Os chinelos calçam pés esquecidos, num velho canto da sala. A chave não mais desenha o círculo do sol. O paletó escora-se nas pernas da calças. A cadeira encosta-se nas paredes ocas. Cobras emigram, pássaros rastejam. Correntes enferrujadas sustentam o mundo. Imagem: Remédios Varo

Hora mágica

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a hora mágica chegou ao fim do último beijo ressoa o estalar de línguas. O monstro recolhe suas garras e retorna a forma original: (frágil caracol intumescido retorna, carente, ao esconderijo).

Ruminantes

A carroça do meu pai cantava sete léguas até o coração (da estrada) Na varanda minha mãe o esperava com bolinhos de fubá e queijo meu avô trançava couros engolia o bigode mascava fumo cuspia na mão. Na tarde longa vacas ruminavam tédio com capim.
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Pensava em luz. Comia trevas com as mãos.

Infância

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Mangueiras da infância eram moças que se maquiavam nas manhãs de sol. Cajueiros pintavam os lábios com as cores do entardecer. Comia mangas e cajus (com sal) trepada em árvores enormes sem raízes, tocando o céu. Na boca um gosto de pecado. (não tenho mais)

Memória do prazer

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                                                Se o teu sexo me aquece, esqueço de mim.

Estrelas Cadentes

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                                                                                              A flor do sexo estendeu seus galhos                                                                    ao leste:                                                        nasceram estrelas cadentes.

A Mulher de Lama

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(Para Clarissa Pinkola Estées, autora de Mulheres que Correm com os Lobos)  É doce o sorriso da mulher de lama, que se levanta do lago. Das águas profundas, emerge a estátua de barro, com seu leque sagrado, rasgando seu véu de lodo e algas. Do seu ventre, um chafariz eleva-se ao céu, de onde os anjos descem aos pares, vindo brincar na sua barriga de ágata. À sombra de seus cabelos em cachos, crescem as macieiras. Na primavera, os botões em flor, salpicam-lhe a vasta cabeleira com pétalas brancas dos futuros frutos proibidos. Soberana, a mulher de lama se levanta do fundo do lago. Altiva, caminha até a beira do penhasco. Do precipício, inicia o seu vôo de mulher-pássaro. (Poema inspirado no livro Mulheres que Correm com os Lobos e que faz parte de uma trilogia: O Uivo de La Loba e Os Secretos Aposentos do Barba Azul)

O Avesso das letras

      O avesso das letras bate palmas aos cães [noturnos] deslizo na luz azul de volta ao rosa natural a noite negra é ponte de eus.

Prelúdio

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Nesta casa há sombras, desejos recônditos, cheiro de incenso nas coisas, as mesmas antes da partida. Há versos no espelho [pairados nos lábios]                 semi-abertos. Há música nos olhos, nas mãos, cores no quarto, na cama à espera... Há sonhos no ar, sono nos gestos, nesta casa habita o verde no fundo da mata, cachoeira irrequieta, marulhante, marinheira navega no espaço, em ondas de calor, nas cauda das sereias, nas asas dos pássaros em fachos de luzes. Esta casa germina: no mar                             na terra                             no ar. Há uma bússola maluca e um farol apagado. Imagem: William Whitaker

As janelas são olhos das casas

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as janelas são olhos das casas sorrisos dos muros onde galos equilibram-se em noite de lua cheia de siiiiiiiiiiiiii la-dooo-rééééé míiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii : o canto comprido dos galos espatifa o sonho dos donos das casas

A manhã lava o rosto

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A manhã lava o rosto em lágrimas de sol sombras calam o verde e o mundo engasga-se (com a vida) um estômago universal dilacera as vísceras atraves -sadas na garganta do mal. A fumaça ex-pira bafos amargos (a cinza é o escremento da dor)

A Pedra de Drummond

No meio co caminho a pedra drummoniana continua atrapalhando rotinas,                                ofuscando retinas. É preciso: rolar a pedra                 olhar a pedra                 sentar na pedra                 escorregar na pedra                 saltar a pedra. Mil demônios levem Drummond                 e sua pedra                 (nossa)                 de cada dia.

Você arrasta correntes, e eu quero voar.

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Você arrasta  correntes, enquanto eu quero voar.   Eu sou o pássaro vermelho, o mais raro e arisco. Não me arrisco a pousar nas tuas mãos. Elas são frágeis. Mãos de louças. Mãos forjadas no leite. Mãos que se desmancham, sopradas pela areia do deserto. O meu canto é triste, mas contínuo. Vem enrredar-se comigo, embaixo das cobertas. Solte as amarras dessa trouxa frouxa. Deixa cair tudo pelas barrancas do rio. Deixa rolarem as pedras. As folhas.   Não existem emendas em minha boca. Eu assopro velas de madrugada prá deixar todos os fantasmas invadirem a casa. Varar paredes. Furar telhas. Temperar as minhas coxas com vinho e mel. De que adianta ser louvadeus, se o seu destino é ser fardo nas costas das formigas? Sou pé de carambola, mais que oferecida. Caindo de madura, mas não arredo pé da terra que abraça as minhas raízes. Eu sou aquele pássaro vermelho e arisco que não quer saber de andar em bando. Eu não me arrisco diante da tua janela. Sou triste, sim, mas quero voar. Camburi

Refúgio

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                                                                                                       (Para Bruna Lombardi) Vontade de me sentar num raio de sol,  me enrodilhar num sorriso quente, com gosto de morango fresco, e esquecer o inverno que habita o  âmago das pedras. Vontade de me aprofundar neste refúgio quatro cantos deslocados no espaço e entrelaçar-me num amálgama de líquens, num misto de fungo e alga, de fogo e água: _ desejo de apagar este vulcão indeciso,    verão teimoso. Vontade de esconder-me nas entranhas minhas, mergulhar profundamente, de cabeça, até o lado oposto da certeza... sinto deixar seus lábios me esperando, com medo de que eu não retorne à tona. Sinto! Mas se já não me atraem as cores, nem o brilho dos teus olhos de ágata, águia que me amedronta, mesmo sabendo que sou tua caça.

Concepção

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a hora mágica chegou ao fim do último beijo ressoa o estalar de línguas o monstro recolhe suas garras e retorna a sua forma inicial: frágil caracol intumescido que cresce para dentro

Hoje não estou em mim

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Hoje, não estou em mim. Acordo. Abro os olhos bem devagar. O corpo parece ter sido esmagado por uma empilhadeira de sacos de sal. Tudo dói. A dor é a minha segunda pele. A dor é a máscara que me veste a face. A dor habita-me desde tempos imemoriais.Cava um túnel no meu coração e se esconde, feito um caranguejo ferido. Centenário. Cheio de garras, ele gruda-se às paredes sanguinolentas de sua caverna. Recusa-se a caminhar de encontro ao sol. Não quer enxergar o céu azul, exagerado, do meio-dia. As crianças morreram em vão, os pequeninos. O caranguejo decrépito é a metamorfose da dor. Suas unhas dilaceram as paredes do tempo. Um exército de vassalos hindus cavam túneis sagrados na escuridão do abismo em que se adentra. Eu quero beber a luz das estrelas para ser imortal por mais algumas horas. Mas o caranguejo-dor é mais forte do que essa minha vontade férrea. O caranguejo não vacila em seu propósito de ganhar a guerra. Avança e conquista territórios inabitados. E finca suas

Reveillon 2009 com Sarau de Poesia

O que pode ser melhor que uma festa de Reveillon comemorada em lugar que reúne, a um só tempo, praias – as mais lindas do Brasil – e um belo pedaço de Mata Atlântica? Pois é. Vc, caro leitor (a), pode não acreditar, mas eu tive esse privilégio. Fui passar os últimos dias de 2008 na pousada Hostel de Camburi, um lugar mágico, localizado no Sertão do Cacau, ou seja, matas, trilhas e cachoeiras por todos os lados, além de estar a dois kms de praias tão badaladas quanto Maresias, ou tranqüilas como piscinas, como Barra do Sahy, sem falar nas charmosérrimas Camburi e Camburizinho, Santiago, Toque Toque Pequeno e Grande, Paúba, e Baleias. E, como se não bastasse tudo isso, ainda tive a sorte de poder participar da comemoração de sete anos do Hostel de Camburi, com direito a uma balada que começou as 8 horas da noite, com um animado churrasco, estendendo-se por toda a madrugada, com direito a trilha sonora pela DJ Karina, que caprichou no roteiro nostálgico dos anos 80, e incluiu até um ráp

The Blue Woman

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Todos os dias, levanta-se bem cedo, a Mulher Azul. Seus braços longos são janelas oceânicas que ela escancara sobre a imensidão do mar. A mulher azul veste-se com longas e leves transparencias de nuvens, enquanto, lânguida, aguarda as carícias do sol, sobre seu corpo blue. A mulher azul refresca-se nas cachoeiras da lua, tendo como dama de companhia, a eterna noite negra, que lhe serve em pequenas doses, doces cálices de fel. O tempo, fiel cavalheiro da mulher azul, senta-se ao seu lado, e começa a retirar-lhe os dez anéis que ela trás consigo, atados, desde o seu fatídico nascimento. Um a um são desatarraxados os cruéis talismãs. Enfim, livre, voa, a mulher azul. Imagem: Christian Schloé