...porquê é tão difícil termos uma atitude amorosa, de olhar o outro nos olhos, sem medo, sem desconfianças, e não temos a coragem de nos dizer: errei, erramos...vamos nos dar uma segunda, terceira, quarta, centenas, milhares de chances se forem possíveis, porquê o amor vale a pena, o amor é a única coisa que vale a pena na nossa vida tão pequena e mesquinha...que nos adianta levantar cedo, trabalhar até cairmos mortos, e não ter com quem dividir o lado da cama, aquele lado que sempre fica vazio, que é guardado com todo o respeito, como se esperássemos a volta do morto, daquele se foi, que se pariu na escuridão dos dias e das noites, que se perdeu de nós e de si mesmo; é tão triste olhar para o lado e descobrir que estamos tão sós, nesta cidade virulenta, violenta, petrificada, sem ter alguém para beijar nos lábios, bem de leve, e dizermos:"boa noite, amor, boa noite"
As àguas revoltas da vida...
As àguas revoltas da vida me envolveram em seu torvelinho denso de troncos e raízes arrastados pelas mãos descarnadas do tempo. -- esse sádico maestro de sonhos que teima em descosturar as malhas da ilusão entretecidas, sempre, ao cair da tarde na longa espera, à porta da casa. Ajoelhada em volta do fogo fico à espreita das labaredas, que vêm lamber as brasas. Os cabelos emaranhados da noite. Os lençóis desmanchados em suor e sangue. A desdita do trabalho em vão. As pérolas e seus colares atados de nós. O nascente e o poente que não mais querem brincar de esconde-esconde no desorizonte. As rugas dependuradas na face. O olhar de peixe morto. Um bater de asas. Portas e janelas da casa. Fechadas.
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