DIÁLOGO COM DRUMMOND II

Em minhas memórias, revisito seu quarto, escondida de mim mesma. Ficaram os armários com suas portas escancaradas e um cheiro de cigarro, insuportável. Encontro uma concha marinha sobre a cômoda, encosto-a ao ouvido e ainda ouço uma sinfonia de anjos barrocos tocando a melodia das coisas que sonhamos juntos e que não aconteceram. Sonhos solitários, perdidos entre nossos beijos e sexos, sem alma nem matéria que lhes dessem forma. Vasculho gavetas e deparo-me com cartografias de projetos inconclusos, um punhado de grafites e lapiseiras sem pontas. Encontro a velha luneta que usávamos juntos, prá observar partos de estrelas da nossa varanda. Aponto-a para o céu e Aldebaran ainda está lá, com uma guirlanda de flores em seu portal, aguardando nossa chegada. Na minha escrivaninha, ainda tenho a ampulheta que você me mandou de presente num dia ensolarado e muito azul, de qualquer setembro. Nunca soube o que fazer com ela, mas trago-a comigo nesses anos em q...