Neste outono cinzento e frio, dobram os sinos de vento que você pendurou nas varandas do meu coração. O som adocicado, assoprado pelo roçar dos leques desperta a ternura dos anjos. Em bandos, eles vêm vigiar o meu sono, inquieto, ou espreitar os meus pesadelos, mais funestos. Sonho com pássaros ardendo em chamas. Flores abrindo-se em pétalas, feridas. Mil-cores desmaiadas pelas aléias dos meus jardins, mim interiores. Uma mulher imponente, surge numa biga romana, puxada por porcos. Vestida de negro, uma condenada se debruça sobre uma ossada (clandestina) e recolhe artelhos femures crânios braços antebraços joelhos Arruma-os num carrinho de mão e sai a empurrá-lo pelas ruas de Belém, com a indiferença cúmplice de toda a cidade. Um homem nu, vem ao meu encontro, montado em um cavalo vermelho com uma máscara de canibal. Mas o sonho mal não termina ainda: os homens do frigorífico me arrancam nua da cama amarram meus braços e tornozelos, e me enfiam num varapau. Me exibe...