Flores secas

O cachorro dormindo ao pé da porta. A enchente. O guarda-roupa e seu destino de traças. O velho baú sisudo, esquecido em um canto do quarto. Tento abrí-lo, mas a fechadura está emperrada. Um baú de lembranças que agora são ossos. Poeira no desorizonte da estrada. Estrada que não queria ter percorrido. Sozinha. Como era bom banhar-me nos rios da minha infância. Rios que corriam límpidos, pelos olhos das minhas irmãs. O mergulho cego do alto da ponte. O sapato de boneca. O cabelo trançado. O vestido vermelho. As imagens dos homens de outros planetas que chegavam numa caixa. Os lábios secos. A vagina sangrando. Um caderno em branco e a falta de caneta. E a internet que não conecta nada a lugar nenhum. Um pastel de feira. Uma camiseta rasgada. Um dente quebrado. Da estronca, a dentadura sorri prá mim, zombeteira. No quintal, o mato cresceu e tomou conta dos beira...